São horas de deitar e durmir, é suposto eu agora fechar os olhos e adormecer.
Ajeito-me confortavelmente entre a almofada e os lençóis.
Como adormecer? Assim do nada? É suposto eu dormir?
Não consigo, tenho o defeito inconsciente de ser demasiado consciente.
A almofada torna-se pesada, entre pensamentos os lençóis amarrotam-se.
Não é só fechar os olhos e não pensar em nada. Por isso não se dorme tão facilmente, pelo menos sozinho...
Não existe acção ao adormecer, não existem distracções que me levem o pensamento, é suposto ficar aqui sozinho á espera que o sonho venha.
Divago, penso noutra, penso em nós, penso em tudo o que me enfrenta mentalmente, tudo o que esmaga e pressiona as têmporas para enfrentar os pensamentos .
Irrita-me não poder não pensar, talvez so ficar aqui e adormecer como qualquer um que adormece.
Não foi o Pessoa que inventou o excesso de consciente e a irritação de pensamento. Foi sim ele ( ou qualquer um dos heterónimos) quem foi capaz de expressar essa merda mental, e torna-la no papel não merda, mas um perfume que nos indica como é pensar como ele, demasiado até.
Não tenho a sua capacidade de libertar o pensamento, essa liberdade.
Apenas partilho o estúpido tormento como ele, o consciente em excesso.
Hmm.. talvez partilhe também o uso do alcool como anestesia para os pensamentos soltos por aí, guardá-los la no fundo do inconsciente, só por pouco tempo claro.
Sabe bem deixar e ficar ali a saborear a vida suspirando a felicidade alcoólica sem me importar com nada, onde um cigarro sabe a um cigarro, talvez melhor até. Não tem outras distracções.
Pior é que o alcoól nos deixa sem demasiados pensamentos, então, as pessoas tomam como desagradável fazer coisas sem pensar.
Estúpidos!
Já tenho calor, a comichão de cada gota de suor que se escapa por cada póro.
Insuportável!
Penso quando chega o sono, mas pensar não o faz chegar.
Levanto-me afastando os já lençóis quentes e amarrotados por irritações de excesso mental.
Pisando o chão frio corro no escuro procurando uma caixa de anestesiante mental.
Engulo as drageias a seco, que arranham pela garganta e esófago adentro.
Fecho os ólhos e penso quando chega o sono...
Sou eu...que respiro...
Sou eu...que sinto...
A cabeça está pesada...
e...
Leve...
Já não penso?
hmm... que paz.
É tão bom ter sonhos como paradoxo! É bom poder durmir sem pensar em...tudo..
hmm...doce soporífero...
O meu ópio...
O meu resto chão.
Mitgefühl
terça-feira, 5 de junho de 2007
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2 comentários:
o teu resto de chão...o teu resto de vida.
voltei a ver as noites passar, a ve-las passar literalmente...faço questão de olhar para o relogio e ver cada minuto que passa,porque? n sei...sei apenas que é mais um momento de chão, do meu chão...
...pode ser que um dia acorde novamente numa cama com lençois perfumados.
as noties de insónia ardem..às tantas fazem-nos pensar mais do que devemos, simplesmente porque nao conseguimos parar de pensar..quando estamo embebidos de felicidade, dormimos..quando não o estamos, desesperamos!
ah...Pessoa era um génio, mas profundamente infeliz e complicado..não lhe apanhes as manhas nem os defeitos...O alcool pode ser ainda mais problemático!
gostei*
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