sexta-feira, 31 de julho de 2009

Entrei no meu quarto de barriga cheia, esperando refastelar-me nos meus lençóis de solidão e perder-me na tv em cama de casal, ou talvez ler um bom livro, mas fiquei antes preso á ideia de um insecto.

Entrei descalço no quarto - como qualquer quarto de homem solteiro que só é limpo em visita de familia, mãe ou mulher-, eu fico sempre de olhos no chão, de forma a não ser surpreendido por um qualquer objecto que se cole ou espete aos meus pés desajeitadamente enormes.

Num saltitar vi um insecto no chão que parecia mosca.
A saltitar?
As moscas não saltam.
Aproximei-me para tirar as dúvidas, tinha aspecto de gafanhoto, mas do tamanho de um mosquito.
E saltitava.
Afrontei-me de nariz cada vez maior e olhos esbugalhados cheios de curiosidade. Tentei provocar um salto com um gesto subtil da mão.
O raio do bicho não saltou.
Fiquei chateado com o bicho.
O sacana enganou-me.
O sacana voa.
Se podes voar, porque saltitas?
Será universal também ao reino animal a estupidez humana?
Talvez se propague ao mundo animal como um virus, quando nos picam as veias e eles nos transmitam as doenças e nos a estupidez.
Porque ninguém está realmente bem aonde está!
Porque toda a gente só está realmente bem aonde não está.
Porque se voas queres saltitar porque voar cansa, mas saltitar para sempre retira-me a liberdade de viajar ao infinito. Então porque voar ao infinito se nunca acaba?
Porque não hà ninguem que queira ser mosca ou gafanhoto para todo o sempre?
Há! Mas so até o serem.

So existe um gafanhoto se ele tiver o seu real comodismo de em preguiça ser gafanhoto se não lhe apetece sonhar.

Porque quem sonha nunca está bem aonde está.
Certamente não vai estar melhor para onde for.

Mitghefüll

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Cem titulos

Por volta das cinco e meia da manhã, ao nosso fundo lado direito, por detrás da estação de comboios, por detrás de uma cidade desconhecida... estava o nascente de um sol frio ainda por amadurecer. O vento empurrava-nos os corpos cansados, escondia os cantos, perdidos por aconchegos ficámos sem refugio para adormecer.

Era um céu laranja, namorava o vermelho, o quente e o frio azul da noite passada, despertava o claro da noite a pouco e pouco. Enquanto todos os outros se abrigavam e dormitavam de estoiro, eu fui la fora e acendi um cigarro, encostei-me á coluna da estação inteirando em mim todo o fumo ao peito, relembrando-me o porquê de deixar de fumar, aconcheguei-me aos sons industriais, a vontade miudinha das máquinas por viajar, olhei os cabos pendentes que sobreviam os comboios e virei-me a um amigo suspirando:
- Um dia quando morrer vou me agarrar a um cabo daqueles e morrer electrificado. Já pensaste? Morrer em chamas...sentir todo aquele poder a atravessar-me o espírito.
- Vais-te sentir a morrer por dentro, queimado por dentro.
- Oh não digas isso, será brutal morrer como quem sente cada nervo seu a remexer em energia.
- Não sejas parvo.

E ele continuou ali sem se preocupar minimamente com o que disse, porque até é normal as nossas conversas atingirem este fundo sobrefundo e que vai ao mais além das normais conversas supérfulas.

- Não sejas tu parvo, não percebes o porquê de eu não me importar, talvez, em morrer a qualquer hora? Pensa não pelo que tu pensas de ti ao que passaste, deixa um pouco os teus sonhos e pensa agora por mim. Ao sentido da vida que é a felicidade, o meu sentido da vida ja o foi, a felicidade não é eterna, ela termina quando se prevê sentir o eterno e de repente nos esquecemos qual o seu quê de sermos felizes. Eu já fui feliz, muito mesmo, ao mais extremo, mas se a felicidade não é eterna qual o porquê de viver uma vida também ela não terna para quem quer a eterna felicidade?

Viste a paisagem que atravessámos à pouco de taxi? Eu sempre desdenhei o Porto, me desprendia desta cidade como uma cidade suja, feia, e desordenada pelo linguajar torto dos seus peões. Mas não te apaixonas-te por aquela paisagem? Uma cidade que parecia um gigante adormecido reflectindo na água quente as luzes amarelas que a cercavam.

Revi uma paisagem fantástica, mas não passou só disso, uma só paisagem, uma nova, que eu vi, revi e me apaixonei, soube que de entre em pouco a esqueceria. Fico triste quando sou feliz, porque de repente me apercebo que toda esta beleza ficará esquecida, se não consigo manter a beleza e felicidade comigo...Porque tenho que viver com a constante ausência do belo?
Ja vi... paisagens de cortar a respiração, ja senti na pele desejos queridos aos deuses, ja percorri meia terra em bolhas de pés ensanguentados, se de tudo senti e cada coisa mais bela que a outra me deixa assim, desapaixonado e sozinho com a constante ausência do todo.

Porque me ei de ficar em mim?

Talvez por não estar apaixonado.
As sensações aos apaixonados são reveladoras de todo o mundo, para eles toda a verdadeira felicidade é apoiada de um sorriso e sincero olhar sentido. Estar apaixonado e ver alguém como nós é um presente que sentimos na alma a brilhar.

Mas se fores feliz, não apaixonado mas feliz, se tal for possivel, se não apaixonado, cômodo na tua felicidade, toda a paixão te parece banal, como qualquer uma que tenhas tido, como se estar apaixonado não fosse verdadeiro agora que se é estavel em verdade de ser e estar feliz. Tudo o resto é simples... tanto o sofrimento como o viver de paz com a felicidade.

Aos outros dois tipos existe o pior, que é o de infelicidade a viver para sempre, tenta lembrar-te da tua pior fossa, da tua pior piedade de ti mesmo, quando o mundo te caía aos pés e de choro gritavas a impossibilidade de ser infeliz por algo tão simples como o olhar de um outro alguém. A sensação de vazio que te percorre a garganta quando o coração palpita em desamor pelo amor perdido que revês de forma simples a passear no passeio á tua frente. Tenta explicar a alguém feliz o quão dificil é ser infeliz. Tenta perceber apaixonado como o amor aos olhos dos desapaixonados não é bonito. Tenta ouvir quando amas, que o teu alguem já não te ama, percebe agora que o amor não correspondido já não é bonito a entregar correspondencia.

Se vives num mundo tao destrutivo ás sensações humanas, e de todas elas já as experimentaste todas... Se aceitas larga-las por de tão conhecedor dos seus prazeres estares, qual é o mal de perder o sentido dito da vida?
Se a vida é tua e dela podes escolher o dito destino sentido?

Se não há sentido...a dar-lhe...

Se satisfeito de sonhos pretendidos e feitos...
Percebes a minha indiferença agora ao destino?

- Então porque não te matas de uma vez só?

...
...

- Porque estou á espera de ser surpreendido pelo destino.

Acedi mais um Lucky Strike e olhei o despertar de laranja cada vez mais enamorado pela clara cor azul de um novo dia, empurrado pelo forte jorrar do frio matinal arrepiei-me... Senti-me no frio a viver, porque ao meu frio relembrei-me do meu contrario a morrer. Senti-me, no frio...

Na minha frieza...uma dor tão simples... Relembrei-me que o frio apaga-me os pensamentos.

Talvez por isso não vejas meus sorrisos longos, porque penso que um dia vão acabar.

Talvez um dia eu fique sem pensar... num belo dia de verão cheio de frio e vento, aquecido pelo seu calor, feliz em paradoxo sem pensar por ser feliz.


N.A.
Como já alguem disse, «Eu nem sempre estou de acordo com o que digo»...neste caso com o que escrevo.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Parte I

Invejo nesta terra a calma com que é contemplada

O verdadeiro estado de

pacificação do ser,

de todo o exterior (o seu)

Mas,

A Horizonte surge, com malícia, o sol

Que despindo-se da sua inocência,

sobE, soBE, sOBE, SOBE…

e aquece!

Reconforta-nos com o seu

calor..

estendendo seus braços a todos,

sem que um único que seja,

fique sem

Calor…

Eu, igualmente em seus braços,

É lá que me encontro..

reconfortado

na ideia vaga de um calor que,

não tarda..

arrefecerá!



by: X.Y.U

quarta-feira, 8 de julho de 2009

De que vale um olhar?

Se uma imagem vale mil palavras.
De que vale um olhar?
É um perder no infinito, procurar pela esguelha esse canto da alma de alguém.
Tem maus olhádos, tem a raiva, tem a tristeza e mente ausente.
Um olhar tem o temer.
Mas mais que vale um milhão de imagens, o olhar vale o que a alma esconde.

Tenta procurar o destino de alguém pelas estrelas ou baratos adivinhos.

Agora olha-me nos olhos e eu te direi quem és, diz-me tu quem sou...

Mas...

Se vendes a imagem tão barata.

Por palavras, como se explica o verdadeiro brilho nos olhos de alguém.
Não ao clichê...Mas ao sentir...

Se...Corta os pensamentos.
Corta as ideias.
Corta a respiração.
Corta-me a pulsação.
E ficamos ali.
Mortos. Sem infinitas imagens ou palavras para explicar o sentir.
O brilho de um olhar.

Mitghefüll

terça-feira, 7 de julho de 2009

Presente!

"..Não
faz mal, abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito..."
Autor; Mário Cesariny


Postado por: X.Y.U