sábado, 26 de dezembro de 2009

Ausência do que temos

Como digo a mim mesmo que adormeci?
Se olho em roda a tudo o que ambicionava, revejo tudo o que tenho sem sentir falta.
Se sonhava com um grande caderno moleskine onde escrever...
Sonhava...
Mas devido às intempéries da vida tive que lhe dar um uso, hoje, o que é feito do meu sonho?
Há um ano e talvez mais meio de outro, sofria por uma cama seca e quente, sem grandes exigências sonhava por um copo de água e uma sopa de ranço quente, uma qualquer papa.
Hoje certifiquei-me de apagar a lareira afastando as brasas já dormentes, de pantufas e um pesado robe aterrei na minha cama aconchegada por lençóis frescos e limpos.

Vou sonhar o quê?
Vou sofrer pelo quê?
Alguém? Alguma razão?
Se nem se pensa de sofrimento, não há necessidade de um qualquer desespero por sentir...agora um nada?

Às vezes tenho vontade de enforcar minha felicidade, ficar a seus pés a chorar em todo o sempre sua ausência.

A vida é feita para quem não tem...
Os não sofredores vivem, para que, quem sonha viva para sonhar.

A vida, a própria, é nascida para ser a antítese da felicidade aquando feliz.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Caro moleskine

São muitos estes meus afazeres que me impedem de estar presente em tuas folhas.
Em vida feliz, não há presença da minha caneta para tua alma.
Quando vives tanto, não sentes a terra a rodar, não há guitarra ou pena que chame por ti.
Já nem o frio se encontra a sós comigo, ele decidiu dar-nos um tempo de afastamento, teve de ser, com tantos casacos e aquecedores disponíveis. Graças à sua ida fiquei doente, sinto a sua falta quando me afasto do calor, dando asas às doenças para me visitarem, ele mantinha tudo à distancia, excepto eu.

Todas as noites deixo a minha janela de estores abertos, enquanto vejo televisão antes de adormecer, deixo-lhe também um banco na varanda para se sentar a ver um qualquer canal comigo antes de adormecer.
E ele fica ali a olhar-me ausente do meu corpo que não treme, ausente pelo calor e sua vontade de me fazer sentir. Acompanha-me noite dentro até os primeiros raios do sol aquecerem minha casa e se evaporar.
Tenho saudades dele, tantas que já me dói o punho de tanto escrever, se só escrevi meia dúzia de linhas....

Amanhã se não estiver feliz, terei o maior prazer em estar doente e falar contigo de arrepios.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Consegues decidir morrer agora?

Hoje caí dentro de mim mesmo. Afoguei-me na minha própria loucura, e ninguém merece assistir a isto.
Com tanto por fora do que há, e eu perco-me no fundo deste poço aonde o labirinto me trouxe.
Hoje fecho os olhos e peço aos meus nervos que cessem, que de chorar com tanta raiva a mim fico morto.
Hoje morro na minha cama, talvez amanha acorde vivo, ou morto.
È uma necessidade.
Decido desaparecer, não é isso o culminar do pensamento?
Eu hoje decido morrer, e vou morrer na cama porque o decidi.
Porque minha presença inviolável destrói vidas a que me afeiçoam.
Porque minha lua oferecida não se pode oferecer mais.
Porque não existe mais do que sou.
Hoje atingi o limiar da minha loucura, e decido por consciente demencia ficar dentro de mim mesmo, onde não possa cancelar vidas.
Lavar bem as mãos e desinfectar.
Esterilizem-se , antes que meu toque crie dor.

Vou-me sem mais que saber.
Hoje decido ficar dentro de mim mesmo, talvez amanha consiga algo mais.
Hoje decido morrer.
Amanha logo se vê

Talvez um poço destes tenha mais poços...
Minha fossa querida e afeiçoada.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Felicidade

Ser feliz.
Lutamos por uma sensação de vida, buscamos nos outros o sentir de ser, o viver que em nós se transforma em nada querer, rejubilamos de lábios saciados, desejos realizados para uma vida de felicidade prolongada.
Despertamos de manhã com o soar da trovoada, vidraças molhadas e sorrimos a uma qualquer pessoa que passa por sermos felizes. Molhados, cheios de frio, trememos pelo amor e realizamos a vida por nós realizada, é um dia a dia completo, cheio, cumprido.
Iluminamos nós mesmos qualquer trovoada inconscientes do frio lá fora, atravessamos tempestades de aura radiante, deslizamos por entre a multidão cinzenta.
Vive-se.
Sente-se.
É um sorrir sincero, não forçamos a simpatia, dormimos tranquilamente sem pensamentos que nos perseguem, sentir, viver, sentir, não analisando a vida.
Decorre assim a vida, quando não feliz em busca do que é feliz.

Não tens saudades de ser triste?
De pensar, de discutir, sentir sufoco na tua loucura? Enveredar por labirintos, descobrindo esquina a esquina um pedaço de ti mesmo, criando mentalmente castelos de ideias, escrevendo rabiscos nos pensamentos sobre o fumo?
Não és feliz, mas tens todo o mundo perante ti! Todo o universo e a tua existência, vergam-se perante a tua mente que pedaço a pedaço disseca cada átomo no infinito.

Ser feliz no meio da multidão é só uma felicidade que atravessa sem se notar, todo o mundo é cinzento, e tu vives nele, feliz, ignorante se faça chuva ou faça sol, sentes sem notar, não reflectes sobre ti, ou a quem te é próximo.
A ignorância não é felicidade, mas sim a felicidade a ignorância?
A infelicidade a consciência do viver e querer, não consigo viver feliz acomodado sem sonhar.

Para a vida ser vida, tem de ter labirintos e sonhos distantes, porque é na dor que sentimos realmente conscientes do ser, o não pensar não é feliz, é adormecer.

Mas a dor, se doí, quem a quer?

Quem não quer viver para sempre sem a sua dor constante?
Passamos a vida a tentar libertar-nos do enorme peso, até que, de repente somos leves o suficiente para voar ao infinito... mas os sonhos?
Que sonhos vou ter se tenho o infinito?

Tenho saudades de ser infeliz, quero procurar a felicidade perdido em labirintos, aprendendo em mim mesmo minha loucura, tudo para ser feliz.
Quero ser infeliz e procurar a felicidade.