sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Rouco

Sente-se pesado,
a lembrança de um dia ter passado.
Hoje, são rotas as memórias.
É triste o querer,
da minha ausência de saber.
Já trás ocupada a vida em histórias.

Fico rouco,
de tanto cantar,
sobre meu eu louco.
Madrugadas inteiras a pensar:
Farei de de mim ouvido mouco?
Como aqueles de vida pouca,
fazem do fado épica viagem louca.
Serei eu um dia a sonhar?

Acabe-se o verso.
Não sou poeta, quanto mais a rimar.
Já me basta o peso de ser homem disperso

Corrói

Corrói o Homem.
Atenta-lhe a ideia de ser o que não quer, destrói e perturba.
Enlouquece.
Perdoai deus os que magoam por amar.
Perdoem aos homens e mulheres o pecado de sentir.
Que de loucos se entranha o ódio desconhecidos de si.
Realizam o mundo em ausência,
é rico o sofrimento vazio e esquecido.
O querer viver sem calor,
solidão a solidão.
Dias e noites.
Perdoa deus os que não querem conhecer o vazio.
Reza para que se encontrem.
Um dia vão esquecer-se de si mesmos,
nesse dia vão ser felizes.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Perdi-te

Perdi-te,
oh sim perdi,
a alma, minha alma.
Aquela dor, a mais temida,
hoje se lamenta como esquecida.

Vais e amas,
sentes e beijas.

Respiras por liberdade.
Sentes o querer
Do Minotauro te libertas,
hoje és dona de ti.
Livre.
Tu, que sempre de labirinto atrás,
trazes hoje o viver de frente,
vives contente.

Quem sente não mente,
Não raciocina ou chora.

Temos agora já tarde o nosso amor em demora.

Tanto fomos,
que hoje não somos.

A cada galho um novo fruto,
nova semente,
pelas que secaram se enraíze uma nova.

Nunca tememos o medo que era não sermos
Amo-te como sempre amei o que nunca tive.

Faz de ti nova rainha e rei,
Nova vida que passou,
o que te dei e nunca em viver nos alcançou.

Ama e sente,
já que sem ver,
nos apareceu a vida pela frente.

sábado, 9 de outubro de 2010

Mantas

Mas como será ser grande? Crescido?
Quando for grande quero ter uma dor de cabeça, pressionar as têmporas de cabeça baixa e olhos fechados para dizer, deixem-me em paz tenho uma enorme dor de cabeça, preciso de ficar sozinho.
Depois vou brincar, vou ter tempo para andar de bicicleta e não ter horas para chegar.
Quando for grande vou poder ir onde quiser sem ninguém perguntar por mim.
Não vai fazer mal chegar a casa com os olhos vermelhos da escuridão, ninguém vai ralhar pelas calças rotas, vou ser grande, crescido, dono de mim.

Quando for grande vou acordar ás horas que quiser, ter dias e dias só para mim! Fico se for preciso acordado pela noite dentro a ver os filmes mais aterradores enquanto como porcarias.

Quando for grande quero ser tudo aquilo que eu quiser!

Oh quando for grande.

Hoje quero ser pequeno, quero não pensar como entreter o tempo, quero não pensar em não pensar, quero não ter dores de cabeça, quero não ter que ralhar comigo pelas horas, quero não ter cuidado com as calças rotas ou sujas, não quero compromissos ou ter de ser responsável.
Hoje quero algo que já não sou.

Viaja-se tanto para alcançar o que nunca fomos,
um dia somos nada mais do que já fomos e nem nos lembrámos de o desfrutar,
triste vida esta que passa e não a contemplamos,
posso guardar um pouco de cada de mim?
Um dia vou querer algo que possa ter?
Algo que possa ver?
Desfrutar e realmente perceber?

Quero ser pequeno, não escrever,
brincar e ficar preocupado
porque minha mãe vai ralhar porque as calças estão rasgadas,
eu vou dizer que estivemos a brincar aos soldados nas obras aqui ao lado,
tomo um banho, vou jantar e adormeço quentinho enrolado em toneladas de mantas.
Quero adormecer como adormecia,
não pensar noites sem fim.
Quero não ter que escrever.
Quero não ver.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Trás a pena

Pesa-me o cansaço, o sono, tudo perante uma tão comum e igual revelação da vida perante mim.
Trata-se de sentir o que não temos, sentir o que já tivemos,
sentir a podridão da vida desgatada evaporar-se em papel queimado.
Trás-me a saudade de não sentir o que não é, revezar o que sinto por não ter que sentir.
Dói sentir o que quero, não aspirar mais do que fui,
triste país de mortos andaimes, mulas e machos de olhos tapados,
andam em recta de olhos destapados a medo de não se desviarem do seu caminho mijado.

Resta-te a ti tal como a mim ficar a vê-los passar e com cuidado não pisar o rasto que deixam, não se ofendam as bestas por pisarmos seus restos.

Fomos heróis, agora envergonhados estamos por aqui,
sem sonhos,
sentados a recontar as migalhas e distribuí-las pequenez a pequenez,
uma a uma por cada refeição, enganando a fome, que alimenta o farto querer de quem pode o poder todo sem dever,
ficamos assim todos a ver o que cada besta fez.

Ah tristeza a nossa do pobre português tão acostumado a consentir, larga agora os sonhos encolhendo os ombros, atravessa o areal num triste nevoeiro,
não sonha, não lembra, quem pode vir
ficou para trás seu quinto império.
Um dia mais tarde contamos as migalhas e olhamos atrás
e vimos que não percorremos mais que o império das Bestas.