segunda-feira, 20 de julho de 2009

Cem titulos

Por volta das cinco e meia da manhã, ao nosso fundo lado direito, por detrás da estação de comboios, por detrás de uma cidade desconhecida... estava o nascente de um sol frio ainda por amadurecer. O vento empurrava-nos os corpos cansados, escondia os cantos, perdidos por aconchegos ficámos sem refugio para adormecer.

Era um céu laranja, namorava o vermelho, o quente e o frio azul da noite passada, despertava o claro da noite a pouco e pouco. Enquanto todos os outros se abrigavam e dormitavam de estoiro, eu fui la fora e acendi um cigarro, encostei-me á coluna da estação inteirando em mim todo o fumo ao peito, relembrando-me o porquê de deixar de fumar, aconcheguei-me aos sons industriais, a vontade miudinha das máquinas por viajar, olhei os cabos pendentes que sobreviam os comboios e virei-me a um amigo suspirando:
- Um dia quando morrer vou me agarrar a um cabo daqueles e morrer electrificado. Já pensaste? Morrer em chamas...sentir todo aquele poder a atravessar-me o espírito.
- Vais-te sentir a morrer por dentro, queimado por dentro.
- Oh não digas isso, será brutal morrer como quem sente cada nervo seu a remexer em energia.
- Não sejas parvo.

E ele continuou ali sem se preocupar minimamente com o que disse, porque até é normal as nossas conversas atingirem este fundo sobrefundo e que vai ao mais além das normais conversas supérfulas.

- Não sejas tu parvo, não percebes o porquê de eu não me importar, talvez, em morrer a qualquer hora? Pensa não pelo que tu pensas de ti ao que passaste, deixa um pouco os teus sonhos e pensa agora por mim. Ao sentido da vida que é a felicidade, o meu sentido da vida ja o foi, a felicidade não é eterna, ela termina quando se prevê sentir o eterno e de repente nos esquecemos qual o seu quê de sermos felizes. Eu já fui feliz, muito mesmo, ao mais extremo, mas se a felicidade não é eterna qual o porquê de viver uma vida também ela não terna para quem quer a eterna felicidade?

Viste a paisagem que atravessámos à pouco de taxi? Eu sempre desdenhei o Porto, me desprendia desta cidade como uma cidade suja, feia, e desordenada pelo linguajar torto dos seus peões. Mas não te apaixonas-te por aquela paisagem? Uma cidade que parecia um gigante adormecido reflectindo na água quente as luzes amarelas que a cercavam.

Revi uma paisagem fantástica, mas não passou só disso, uma só paisagem, uma nova, que eu vi, revi e me apaixonei, soube que de entre em pouco a esqueceria. Fico triste quando sou feliz, porque de repente me apercebo que toda esta beleza ficará esquecida, se não consigo manter a beleza e felicidade comigo...Porque tenho que viver com a constante ausência do belo?
Ja vi... paisagens de cortar a respiração, ja senti na pele desejos queridos aos deuses, ja percorri meia terra em bolhas de pés ensanguentados, se de tudo senti e cada coisa mais bela que a outra me deixa assim, desapaixonado e sozinho com a constante ausência do todo.

Porque me ei de ficar em mim?

Talvez por não estar apaixonado.
As sensações aos apaixonados são reveladoras de todo o mundo, para eles toda a verdadeira felicidade é apoiada de um sorriso e sincero olhar sentido. Estar apaixonado e ver alguém como nós é um presente que sentimos na alma a brilhar.

Mas se fores feliz, não apaixonado mas feliz, se tal for possivel, se não apaixonado, cômodo na tua felicidade, toda a paixão te parece banal, como qualquer uma que tenhas tido, como se estar apaixonado não fosse verdadeiro agora que se é estavel em verdade de ser e estar feliz. Tudo o resto é simples... tanto o sofrimento como o viver de paz com a felicidade.

Aos outros dois tipos existe o pior, que é o de infelicidade a viver para sempre, tenta lembrar-te da tua pior fossa, da tua pior piedade de ti mesmo, quando o mundo te caía aos pés e de choro gritavas a impossibilidade de ser infeliz por algo tão simples como o olhar de um outro alguém. A sensação de vazio que te percorre a garganta quando o coração palpita em desamor pelo amor perdido que revês de forma simples a passear no passeio á tua frente. Tenta explicar a alguém feliz o quão dificil é ser infeliz. Tenta perceber apaixonado como o amor aos olhos dos desapaixonados não é bonito. Tenta ouvir quando amas, que o teu alguem já não te ama, percebe agora que o amor não correspondido já não é bonito a entregar correspondencia.

Se vives num mundo tao destrutivo ás sensações humanas, e de todas elas já as experimentaste todas... Se aceitas larga-las por de tão conhecedor dos seus prazeres estares, qual é o mal de perder o sentido dito da vida?
Se a vida é tua e dela podes escolher o dito destino sentido?

Se não há sentido...a dar-lhe...

Se satisfeito de sonhos pretendidos e feitos...
Percebes a minha indiferença agora ao destino?

- Então porque não te matas de uma vez só?

...
...

- Porque estou á espera de ser surpreendido pelo destino.

Acedi mais um Lucky Strike e olhei o despertar de laranja cada vez mais enamorado pela clara cor azul de um novo dia, empurrado pelo forte jorrar do frio matinal arrepiei-me... Senti-me no frio a viver, porque ao meu frio relembrei-me do meu contrario a morrer. Senti-me, no frio...

Na minha frieza...uma dor tão simples... Relembrei-me que o frio apaga-me os pensamentos.

Talvez por isso não vejas meus sorrisos longos, porque penso que um dia vão acabar.

Talvez um dia eu fique sem pensar... num belo dia de verão cheio de frio e vento, aquecido pelo seu calor, feliz em paradoxo sem pensar por ser feliz.


N.A.
Como já alguem disse, «Eu nem sempre estou de acordo com o que digo»...neste caso com o que escrevo.

2 comentários:

Eleanor Rigby disse...

Pode ser que o destino (prefiro chamar-lhe karma),um dia, nos surpreenda a todos nós...

the entomb disse...

nao sejas parvo