segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Crónicas de uma morte anunciada - V (Realidade)


Acordar bem cedo com o despertador irritante, levantar sem vontade alguma, sentir o frio do quarto, fazer a barba em água fria, tomar um banho quente onde quase adormecemos, lavar os dentes e doer aquele dente lá atrás.

Vestir uma roupa qualquer que já tenho demasiado usada.

Pentear o cabelo todos os dias sempre irritante.

Sair para o carro e seguir para o trabalho.

Apanhar o transito que destrói a paciência.

Seguir um dia de trabalho extremamente ingrato e aborrecido, onde o chefe nunca somos nós nem nunca seremos.

Sair do trabalho e apanhar o rebanho de veículos na direcção oposta.

Chegar a casa, fazer o jantar, ver um pouco de televisão aborrecida,balbuciar umas palavras, ler um livro ja lido porque não tive tempo de ir comprar um novo, mas pouco importa porque estou tão cansado que me vou deixar durmir a ler o livro de tão cansado que estou a lê-lo.

Quando acordar no sofá, arrasto-me para a cama, e tudo sera igual amanhã.


Viver sobre as estrelas, amar sobre as estrelas, sentir tudo por alguém e não sentir. As coisas nunca serão belas para sempre.

Se amares alguém em demasia, chega a uma altura em que vais olhar essa pessoa em demasia, alguma vez vai fazer parte da tua vida, existe um limite para a surpresa, tu não lhe podes fazer sempre surpresas, tu não vais poder dizer sempre coisas que a façam corar, tu não a vais fazer sempre feliz.

Ela um dia vai tirar-te do sério e vais gritar com ela, dizer-lhe coisas que nunca pensas-te dizer a pessoa que mais amas, um dia vais querer estar sozinho sem ela e ter um espaço para ti, ela um dia vai querer sair da monotonia, vocês não vão acabar todas as noites em amor escaldante, vocês vão deixar de ser as pessoas mais apaixonadas do mundo, um dia vão ser mais um casal.

Um dia vão ser somente duas pessoas juntas que um dia foram as mais felizes do mundo, mas agora são somente duas pessoas juntas numa monotonia.

Tu vais viver o teu dia e pouco ou nada vais reparar na pessoa que está ao lado, na pessoa com quem quiseste viver.


Mas um dia acordas e sais para a rua e não há céu, sentes te sozinho.

De repente sentes falta de algo, sabes que o céu não está lá, perdeste as estrelas sob as quais outrora pudeste amar alguém, respiras um ar mais pesado, procuras algo e não sabes o que procurar.

A realidade atingiu-te, a realidade saiu para não mais voltar, vives sozinho na vida onde ela um dia existiu. Vives cada dia agora, mas sozinho, um dia deixas-te de lhe fazer surpresas porque ja as tinhas feito todas, mas agora percebeste que lhe podias ter feito muitas mais.

A realidade na nossa monotonia mata tudo, a nossa maneira de ver as coisas é ela toda subjectiva (claro).

Mas o que separa as pessoas reais, das outras é que as pessoas verdadeiras conseguem aceitar a realidade. Todos nós temos que aceitar a realidade, e que para o resto da nossa vida, todos os dias vamos ter de viver conosco mesmos, e infelizmente ela fazia parte dele,mas todos somos aborrecidos. Mas ela não aguentava a realidade.


A realidade procura nos matar com a monotonia, seguros são aqueles que aguentam e olham o céu todos os dias de uma maneira diferente, verdadeiras são as pessoas que percebem que a vida é aborrecida, e as surpresas só existem no principio....e no fim...


Mitghefüll

domingo, 21 de dezembro de 2008

Crónicas de uma morte anunciada - IV (Mulher)

A mulher é perfeita, mas tem todas as particularidades do ser humano, as suas desvantagens, o egoísmo, que existe tambem ele no seio do homem.
A mulher, é perfeita quando se olha, e contempla na luz reflectida da sua pele, a felicidade dela libertada, olhar nos olhos de uma mulher e sentir o estomago a sair cá para fora revela nos a sua perfeição.
A mulher tem uns lábios perfeitos, que queimam no beijo de seda, a mulher tem em si as sombras da luz nos seus contornos, a mulher cria cada contorno diferente em cada póro da sua pele lisa, na sua pele arrepiada o toque culmina em sentimento, a mulher é perfeita com todas as suas imperfeições que cada uma no seu sabor diferente a tornam mais perfeita.
O azedo de uma mulher torna-a doce, mais doce ainda que o tudo que era antes, os seus cabelos prendem o perfume da sua vivacidade.O pescoço revela a sensibilidade do desejo, nas carícias do abraço. Um beijo no pescoço morde a frustração de tanta perfeição de não nos podermos fundir num só em tal amor.
A sua silhueta tão suave, e reflectora de tudo aquilo que Deus criou melhor no universo está ali quando olho para ela.
Os olhos profundos de incerteza e surpresa, negros de desejo e brilhantes da felicidade que emana nela, são o mais revelador de si, os olhos que penetram tudo com vontade de descobrir e aprender, amar.
A mulher é perfeita.
Tu és perfeita. Mas por agora vou parar de falar, porque tenho em demasia a tua ausencia.
Vou guardar para mim toda a perfeição e junta-la a mim nos meus sonhos.

Mitghefüll

Crónicas de uma morte anunciada - II (Desaparecer)

Desaparecer por momentos, ganhar balanço abandonando a vida antiga para saltar e apreciar a felicidade, abraça-la disposto a não magoar a nova, cuidar da nova felicidade para todo o sempre com paciencia de santo e fazer a ela tambem feliz, nem que para isso tenha que fazer malabarismo com os meus demónios. Mas ao desaparecer por momentos, matam-me, e fico a meio do salto, sem encontrar nem felicidade nem abandono, perco-me na morte de tudo o que quis para todo o sempre da minha plenitude.
Não percebo o porquê de tudo isto.
Magoa não quereres a felicidade.
Magoa analisar o bom e o mau como se de objectos se tratassem.
Doí, doí demasiado.
Vivi pleno convencido que o mundo ia melhorar. E melhora só de um suspiro da tua lembrança, mas junto á memória caí a tua ausencia que derruba as paredes recém criadas do meu mundo.
Se não sair deste limbo prefiro viver sozinho para sempre e evitar tudo e todos.
É uma résquia para vagabundos isto que fica em pequenas ilhas de felicidade, e muitas ilhas cheias tristeza e confusões desnecessárias, uma vida perdida á partida, sem necessidade de viver.
Magoa, e dói, dói muito, nunca na vida senti tal dor, e acredita que senti muita dor ultimamente.
Que morra que não interessa, desaparecer verdadeiramente é triste, mas inevitavel, a acalmar esta dor latejante em todas as partes do meu corpo.
Dói dói dói, ver alguem a desistir da felicidade por entrecurvas teoricas de lógica e rétórica.
Dói ver que não queres o tudo que eu por ti dava, dói desistires na primeira curva, só porque dei balanço para te agarrar no teu mundo, abandonando o meu antigo, fugiste de mim, aterrorizada que te abraçasse.
A verdade é que fugiste de mim, so porque uma ultima vez recuava para dar o maior salto da minha vida, e te alcançar.
Dói demais saber que se tiver mesmo que desaparecer, desapareço de vez.
E tu sabes, o nosso abraço ainda que simples é ainda demasiado amor para um abraço.

Mitghefüll

Crónicas de uma morte anunciada - I (Morte)

Anunciei a minha morte à muitos anos atrás, nasci e gritei em plenos pulmões o meu sopro de vida pela primeira vez anunciando um ultimo.
Cresci consigo ainda que pouco habituado a viver no mundo ocidental onde ela escasseia, cresci num ambiente católico que dá felicidades aos mortos pois vão viver num mundo melhor, o mundo do além onde se é omniconsciente, que gozamos de uma eternidade tanto nas chamas como nos céus na graça de Deus.
Nunca ninguém voltou dos mortos, ninguém me sabe dizer como aquilo é, é triste viver a pensar que tudo isto aleatório do universo cientifico que não é nada. Nascemos e Morremos e não existe consciencia pós-vida, sem um Deus não há deus que nos salve. É triste pensar que a vida não é uma passagem para algo mais, mas parece a mais lógica, daí toda a necessidade pessoal do ser humano pela religião, não há um gene, mas há a morte. E a morte que destrói o ser, destrói a consciencia, a Alma humana fruto dos sentimentos do animal humano evoluido, destrói tudo não havendo imaginação para mais, o homem é obrigado a criar um deus, ou um Deus para explicar que tudo isto não é uma merda.
Anuncio a minha morte, sem espera frequente, vivo a vida sem crenças teológicas, e respiro cada molécula de oxigénio como se fosse a ultima, porque um dia anunciei a minha morte, e não tenciono ficar cá para semente.
Repudio o morte desnecessária, ainda que, por vezes pareça que todas sejam desnecessárias, mas a vida não deve ser eterna, caso contrario tudo seria um sentido infrutífero, a morte a alguns mete o medo pelos que se agarram á vida ou seja os que ainda têm muito para viver, a outros e a mais aceitavel, o medo de perder os entes queridos, há ainda quem tenha medo de morrer para não deixar os outros, tudo fruto do sentimento humano egoísta. As mortes desnecessárias são de pessoas que têm muito que viver, e a viveram inconscientes de que um dia anunciaram o fim, são essas as que mais me comovem, um velho homem que viveu toda a sua vida é consciente do fim e aceita-o pois apercebe-se que o fim chega, e começa a despedir-se de cada partícula da vida, de cada pessoa. Aos entes queridos, o normal é inevitavel quantos mais novos mais incrédulos se tornam pois a pessoa que vêm agora morrer sempre esteve ali logo é normal que continue ali, aos mais velhos apesar de doloroso sabem que os seus amigos têm vindo a expirar e eventualmente o aceitam.
Vivo e vivi, vivi sempre que pude ao máximo, apreciando cada curva de uma montanha, cada nuvem que a contorna, cada sombra de uma mulher, cada fumo de cigarro libertado em nuvens cinzentas, cada beijo como se fosse o ultimo, cada queda e cada dor que me relembra o estar vivo.
Anuncio a minha morte, pois a cada momento ela está mais próxima, e apreciava um bom funeral.
A morte e tão normal como o nascimento, e o acontecimento é mal aproveitado, digo eu mente fruto de toda a vida festiva do ser humano nos ultimos séculos, fruto da geração que insiste em de desenraízar das suas tradições e religiões, eu apreciava um bom funeral. As pessoas desaparecem quando mortas, ficam debaixo da terra a apodrecer como corpo, a sua "alma" e tudo o resto desaparece e deixa de existir, e a unica forma de persistir é pela memória dos que cá ficam. Pior que morrer, é desaparecer da face da terra, e da memoria da humanidade.
Talvez por isso os chineses tenham três coisas necessárias para viver uma vida plena e preenchida, plantar uma àrvore, escrever um livro, e ter um filho, desconheço a ordem, mas reconheço que adorava deixar um filho para trás fruto de tudo o que fui e poderia ser, reconheço que o livro carrega toda a nossa alma e sentimentos para a eternidade da sua existencia, e a àrvore, torna-se uma com o mundo, criando muitas outras em seu seguimento.
Espero a morte, indiferente por mim, mas consciente dos meus entes-queridos, porque vivi tudo pleno de mim mesmo e de todos os outros, e , um bom funeral, relembrando a minha existencia terrena com uns bons licores e cervejas de alto nivel, saudam à minha vida a memoria, do que vivi e apreciei, um funeral deve ser para relembrar o falecido tanto nos bons como maus momentos, onde tudo e todos se reunem conhecendo e partilhando deixando verdadeiramente a pessoa que ficou para trás,criando assim forma á imortalidade da pessoa na memoria da humanidade.
Já disse alguem, o homem persiste na memoria dos que ficam.
Não há nada a lamentar num funeral a não ser a cerveja morta, pelo menos no meu.

Mitghefüll

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008


Lisboa, Praça do Comercio ou Terreiro do Paço ( ainda Black Horse Square)



Lisboa, é pitoresca...
é azul,
é preta
é branca,
é amarela.

Lisboa, "menina e moça"

é adolescente
é velha...



by:X.Y.U


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Estrada



A caminho.
Caminho sobre o solo irregular...

Caminho, pé-ante-pé,
corro.
Paro!

Olho..
e vejo ao fundo, bem lá no fundo , o fim!

Recuo dois passos...

O inevitável cansaço, consome-me a destreza e a força ..
a solução seria recuar!

Quantos não percorreram já este caminho?
Quanto chegaram ao fim?

( Dois passos adiante)
De costas voltas para o inicio..

Sigo as pisadas dos outros,
Decido-me pelo fim!


by: X.Y.U