segunda-feira, 20 de junho de 2011

Vapor de ideia

Sei que ontem antes de adormecer escrevi uma folha inteira, inteira de fragmentos, cheia de rascunhos, retratos de folhas mais pequenas, livros de histórias, poemas de embalar, canções de apaixonar.
Alem do que mais enchi das linhas vazias, sei que algures por entre elas, no meio de uma qualquer das paralelas ficou uma ideia, simples e sublime, genial, talvez humilde e empobrecida, mas sei que era singular.
Tão única que ficou esquecida, mal os olhos se fecharam a morfeu encostado, todos os sonhos me roubaram.
Era linda, soberba, uma história romance, Eva e Adão, no jardim do Éden e depois?
Foi-se, tão bela prosa pelo meio de outros poemas, folhas carregadas de letras, agora evaporadas, sei que escrevi, que sonhei, mas não sei se acordado.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Mulher bonita numa praça sozinha

Sentada na esplanada, não senhora mas mulher, vestida de preto, sozinha, olhos pintados de sombras vestidos, saia simples, meia simples e blusa de malha cobrindo os pulsos beijando as mãos, coisa simples. Mulher, contendo tudo o que de belo trás o feminino, enverga longos cabelos muitos escuros nem pretos ou castanhos são de seda.
Pose em guarda perante a praça, cruza as pernas e ergue de uma mão um autoritário cigarro, por lá fica, horas a fio, semeando pelo ar caminhos expirados de fumo sentido, olhando o ar, vendo nos caminhos percorridos velhas histórias antigas, quem sabe imaginado, a viver o que sonha, cria a vida nova, sonha muito, horas a fio, sentada em guarda perante a praça.
Talvez lembre, talvez espere, da esguia forma ergue-se um subtil desagrado, talvez de tanto lembrar, talvez de tanto esperar, talvez de tanto sonhar.
A mulher não olha a praça, agora os seus olhos negros cobertos de sombra moram junto ao chão, olhando uma infinita pedra lá não presente, tão pesada tão pesada que a puxa cada vez mais para si, cada vez mais adentro, sempre ao fundo.
Lágrimas esborratam o negro, rios de escuridão trespassam a beleza e revelam da firmeza feminina uma criança, tão inocente de lábios contrários ao sentido feliz, bochechas inchadas já não são polidas são perdidas, inundadas.
Mulher esta, a não senhora, tão firme chora que se ergue uma criança, tão bela e sedutora era, embala agora a praça no seu pranto.
Talvez lembre, talvez espere, talvez sonhe.
Tão delicada senhora, mulher, menina e moça, tão sozinha tão comum, deixou de ser o belo, para a ser a pena, o triste choro que amarra o coração de quem vê.
Se lembra, espera ou sonha, sem consolo inunda a praça, não é mais aquela bonita, esse
oásis de mundo inteiro, só é delicada, uma criança que chora, que soluça.

Rotinando

Somente em horas tardias se fazem vontades tardias,
a velha vontade de escrever o que vem cá dentro,
ou talvez nada se diga, salta o cansaço sobre todas essas cantigas,
mais que o pensamento aflito, pesam as rotinas.

Sobrevalor de vida à vida, isso nós lhe damos,
horas a cumprir, tempo mal gerido,
já vai tarde o tempo de aborrecer,
prolongar o tempo, sem saber que lhe fazer.

Sendo que o natural seria ir adormecer para a sombra, sentir a brisa que refresca o calor, observar todos os outros que entram na cidade, todos que saem das sombras dos beirais, cada um à sua vida, cada um suportando seu calor para não chegar atrasado. Eu, à sombra, adormecido, aborrecendo o tempo, fumando cigarros, amansando a relva, sonhando coisas antigas.
Quero sonhar coisas antigas, não temer o passar do tempo, não usar relógio, ficar pela sombra sem telemóvel, sem ninguém saber onde estou ou onde fui.
Ser eu, sem ninguém que me pergunte:
Onde estas?
Sempre podia responder:
Não sei.
Quem de nós hoje crescido tão crescido e de carteira preenchida pode dizer:
Não sei,
nem onde estive,
nem onde estou,
nem onde vou.
Quem adormece só, hoje em dia à sombra?
Tão poucos que não encontro, há sempre tanto para fazer.
Oh,
quero tanto não saber que fazer.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

S E N T I M E N T O

Um sentimento é coisa pequena, vem lá de dentro, vem sobrando do pensamento.
Vamos surripiando sentimentos á medida do respirar, enconstando os ouvidos à espera que cheguem, querendo ser, querendo querer, querer, querer querer...
Querer...
Queremos sentir.
Que vida se sente querendo sentir?
O sentimento essa coisa pequena, que se escapa da mão,
porque a deixas fugir?
Não entendo a razão de sentir.
Penso e vou vivendo de acrescento a esse pequeno bicho que sou,
querendo ou não viver, sempre perguntando, porque ei de sentir?
Sensações, quimicas, moléculas, electrões dispersos pelo meio de sinapses, fazem de mim mais animal que ser sentido, se nem penso, sou só uma carne quente, inflamada de sangue quente, cheio de merda quente, que mija mijo quente, que come comida quente, mas só sente o frio presente, essa ausência de calor e o fervor de ser alma maior.
Se só sou uma carne viva enrolada em manto rosa, que mundo a alma mostra?
Católicos apostólicos, Muçulmanos, Hindus, seitas sem fim, com ou sem receitas, cada uma criada, não por DEUSES mas macacos quentes, de anatomia mal feita, cheios de cancro e infecções, todos desejando ser mais que estar, ser além de morrer, todos sem alma, acreditando mover montanhas, movendo somente vontades, todos infelizes.
E a resposta?
O sentir vem de onde?
Minha alma é fria, ela existe em que parte do meu ser quente?
Somos animais, que brincam com as linhas,
animais que brincam com as palavras,
metafisicam séculos e séculos e não passam do mesmo,
um emaranhado de carne e merda quente, cheio de ideias quentes, cada qual com seu cheiro a merda, que do cheiro não passa.
Essa coisa que é o sentimento, provem de onde?

Metafísicas, já diz o outro...
ideias de merda já dizem outros...
Hoje em dia ninguém pensa nisso...digo eu...
Não há tempo, ou já todos desistiram, e serei dos poucos parvos que perguntam a resposta que não existe, ou já todos sabem e ninguém me diz,
ah mas não parecem felizes...
Certamente não sabem..
E o sentimento?
Terá que vir acompanhado com este nauseabundo cheiro?

São felizes, e não conseguem cheirar...
Porque só a mim me cheira a merda?
Será das altas horas? Talvez seja o ultimo acordado.