segunda-feira, 8 de agosto de 2011

finito

Atinjo um beco sem esperar saída.
Fico-me somente,
nunca olhando, nunca em busca.
Fico parado encarando o nada, porque ao nada cheguei com tanta pergunta,
agora só me resta aceitar e não esperar.
Sentado, de braços cruzados e cabeça baixa não esperando, a postura triste, aceite no fado compreendido.
Cheguei ao meu limite.

sábado, 23 de julho de 2011

Sei que sim e sei que não.
Sei que tudo é em vão.
Tudo se mostra e compreende.
Tudo se entende e aborrece.
Tudo tão extenso e inútil.
Nada é mais verdadeiro ou falso.
Além da rotina tudo é fútil.

Para que serve então o fado,
se só me causa desagrado?

Bichos e animais
com suas filosofias se fazem demais.
Vejo a vida que passa no beiral sentado,
todas as 'ologias a que se fala
nenhuma trás espanto.
Observo encostado o aborrecer
usado que é viver, tão gasto..
Adormeço...devagar adormeço...
Sem nada para aprender.
Adormeço...devagar adormeço...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Vapor de ideia

Sei que ontem antes de adormecer escrevi uma folha inteira, inteira de fragmentos, cheia de rascunhos, retratos de folhas mais pequenas, livros de histórias, poemas de embalar, canções de apaixonar.
Alem do que mais enchi das linhas vazias, sei que algures por entre elas, no meio de uma qualquer das paralelas ficou uma ideia, simples e sublime, genial, talvez humilde e empobrecida, mas sei que era singular.
Tão única que ficou esquecida, mal os olhos se fecharam a morfeu encostado, todos os sonhos me roubaram.
Era linda, soberba, uma história romance, Eva e Adão, no jardim do Éden e depois?
Foi-se, tão bela prosa pelo meio de outros poemas, folhas carregadas de letras, agora evaporadas, sei que escrevi, que sonhei, mas não sei se acordado.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Mulher bonita numa praça sozinha

Sentada na esplanada, não senhora mas mulher, vestida de preto, sozinha, olhos pintados de sombras vestidos, saia simples, meia simples e blusa de malha cobrindo os pulsos beijando as mãos, coisa simples. Mulher, contendo tudo o que de belo trás o feminino, enverga longos cabelos muitos escuros nem pretos ou castanhos são de seda.
Pose em guarda perante a praça, cruza as pernas e ergue de uma mão um autoritário cigarro, por lá fica, horas a fio, semeando pelo ar caminhos expirados de fumo sentido, olhando o ar, vendo nos caminhos percorridos velhas histórias antigas, quem sabe imaginado, a viver o que sonha, cria a vida nova, sonha muito, horas a fio, sentada em guarda perante a praça.
Talvez lembre, talvez espere, da esguia forma ergue-se um subtil desagrado, talvez de tanto lembrar, talvez de tanto esperar, talvez de tanto sonhar.
A mulher não olha a praça, agora os seus olhos negros cobertos de sombra moram junto ao chão, olhando uma infinita pedra lá não presente, tão pesada tão pesada que a puxa cada vez mais para si, cada vez mais adentro, sempre ao fundo.
Lágrimas esborratam o negro, rios de escuridão trespassam a beleza e revelam da firmeza feminina uma criança, tão inocente de lábios contrários ao sentido feliz, bochechas inchadas já não são polidas são perdidas, inundadas.
Mulher esta, a não senhora, tão firme chora que se ergue uma criança, tão bela e sedutora era, embala agora a praça no seu pranto.
Talvez lembre, talvez espere, talvez sonhe.
Tão delicada senhora, mulher, menina e moça, tão sozinha tão comum, deixou de ser o belo, para a ser a pena, o triste choro que amarra o coração de quem vê.
Se lembra, espera ou sonha, sem consolo inunda a praça, não é mais aquela bonita, esse
oásis de mundo inteiro, só é delicada, uma criança que chora, que soluça.

Rotinando

Somente em horas tardias se fazem vontades tardias,
a velha vontade de escrever o que vem cá dentro,
ou talvez nada se diga, salta o cansaço sobre todas essas cantigas,
mais que o pensamento aflito, pesam as rotinas.

Sobrevalor de vida à vida, isso nós lhe damos,
horas a cumprir, tempo mal gerido,
já vai tarde o tempo de aborrecer,
prolongar o tempo, sem saber que lhe fazer.

Sendo que o natural seria ir adormecer para a sombra, sentir a brisa que refresca o calor, observar todos os outros que entram na cidade, todos que saem das sombras dos beirais, cada um à sua vida, cada um suportando seu calor para não chegar atrasado. Eu, à sombra, adormecido, aborrecendo o tempo, fumando cigarros, amansando a relva, sonhando coisas antigas.
Quero sonhar coisas antigas, não temer o passar do tempo, não usar relógio, ficar pela sombra sem telemóvel, sem ninguém saber onde estou ou onde fui.
Ser eu, sem ninguém que me pergunte:
Onde estas?
Sempre podia responder:
Não sei.
Quem de nós hoje crescido tão crescido e de carteira preenchida pode dizer:
Não sei,
nem onde estive,
nem onde estou,
nem onde vou.
Quem adormece só, hoje em dia à sombra?
Tão poucos que não encontro, há sempre tanto para fazer.
Oh,
quero tanto não saber que fazer.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

S E N T I M E N T O

Um sentimento é coisa pequena, vem lá de dentro, vem sobrando do pensamento.
Vamos surripiando sentimentos á medida do respirar, enconstando os ouvidos à espera que cheguem, querendo ser, querendo querer, querer, querer querer...
Querer...
Queremos sentir.
Que vida se sente querendo sentir?
O sentimento essa coisa pequena, que se escapa da mão,
porque a deixas fugir?
Não entendo a razão de sentir.
Penso e vou vivendo de acrescento a esse pequeno bicho que sou,
querendo ou não viver, sempre perguntando, porque ei de sentir?
Sensações, quimicas, moléculas, electrões dispersos pelo meio de sinapses, fazem de mim mais animal que ser sentido, se nem penso, sou só uma carne quente, inflamada de sangue quente, cheio de merda quente, que mija mijo quente, que come comida quente, mas só sente o frio presente, essa ausência de calor e o fervor de ser alma maior.
Se só sou uma carne viva enrolada em manto rosa, que mundo a alma mostra?
Católicos apostólicos, Muçulmanos, Hindus, seitas sem fim, com ou sem receitas, cada uma criada, não por DEUSES mas macacos quentes, de anatomia mal feita, cheios de cancro e infecções, todos desejando ser mais que estar, ser além de morrer, todos sem alma, acreditando mover montanhas, movendo somente vontades, todos infelizes.
E a resposta?
O sentir vem de onde?
Minha alma é fria, ela existe em que parte do meu ser quente?
Somos animais, que brincam com as linhas,
animais que brincam com as palavras,
metafisicam séculos e séculos e não passam do mesmo,
um emaranhado de carne e merda quente, cheio de ideias quentes, cada qual com seu cheiro a merda, que do cheiro não passa.
Essa coisa que é o sentimento, provem de onde?

Metafísicas, já diz o outro...
ideias de merda já dizem outros...
Hoje em dia ninguém pensa nisso...digo eu...
Não há tempo, ou já todos desistiram, e serei dos poucos parvos que perguntam a resposta que não existe, ou já todos sabem e ninguém me diz,
ah mas não parecem felizes...
Certamente não sabem..
E o sentimento?
Terá que vir acompanhado com este nauseabundo cheiro?

São felizes, e não conseguem cheirar...
Porque só a mim me cheira a merda?
Será das altas horas? Talvez seja o ultimo acordado.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A fraqueza humana provem do esquecimento,
tal é repetição que faz do sofrimento.

Porque não?
Lembrar tudo e tudo querer?
Talvez assim um dia consigamos viver.

Porque estamos condenados a repetir a estupidez que é sofrer?
Quem não queria ser sempre feliz, poder respirar felicidade,
grandes feitos e alegrias?
Tudo de alma cheia, realizada por mundo percorrido,
nunca esquecido.

Infelicidade essa que é esquecer a felicidade.
Esquecer o sofrimento, aquele cruel sofrimento que nos avisava que a felicidade se estava a acabar.
Cruel vida esquecida, cheia de coisas perdidas que nunca nos lembra o que realmente precisamos conquistar.
Cruéis estes versos, que mal chegam a ser versos.
São tão inteiros como esse esquecimento,
a real origem do negro sentir que ai vem.
Aquele que não lembro.
Porque fui feliz,
sofri,
senti,
pensei,
esqueci.
E hoje sou uma amalgama de buracos sem saber realmente o que fui,
o que vou ser?
Talvez esquecido do que sofro agora.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

calar

Passam um pouco distante por ai essas vontades das pessoas,
que não há ninguém que não fale,
ninguém que não se cale,
no entanto poucos ouvem
o que essa conversa contem.

Ficar a ouvir tanta gente a falar,
tanta conversa a estragar,
dá me vontade não estar.

Pouco se aprende neste andamento,
mais vale ler um livro,
e como os outros vou fingindo, existindo
o tal e qual que não sou,
mas vou sendo.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Caro senhor Fernando do Brasileira.
Desde há algum que estou restrito das ruas, dos cafés, dos bares e das belas praças.
Tudo porque deixei de frequentar as bibliotecas, de seguida as livrarias eram impossíveis, sobrevivo a passear por alfarrabistas antes da hora de fechar.
Em outros tempos era assíduo senhor das bibliotecas, e elas minhas boas amigas, até que começaram a ver que eu não deixava os livros voltarem ás suas casas, foi então que começou uma perseguição à minha pessoa, os directores destas instituições publicas começaram a trocar impressões entre si sobre a minha pessoa, começaram a perceber que faltavam demasiados livros, toda essa falta indicava sempre a mesma pessoa, eu.

Começaram a organizar-se e a passear pelas livrarias, fizeram uso dessa massa humana que são os bibliotecários e os seus seguidores, depois contactaram as editoras, foi num ai, quando dei por mim estavam pessoas estranhas de óculos a seguirem-me no meio de estantes empoeiradas, cheguei a encontrar chips entre a contra-capa para tentarem localizar o tesouro dos meus livros emprestados...

Não posso ter culpa de não devolver os livros, quando vou a uma biblioteca escolho o órfão lá localizado e adopto-o, trato cada página como minha, cada letra acariciada e suspirada numa palavra bem dita, todo lido em voz alta. Que culpa posso ter se não os devolvo?
Sabe-se lá o que podem essas pestes que por ai andam fazer aos pobres órfãos, um livro de uma biblioteca. coitado, não merece esses destinos, ficar abandonado no meio de um velho edifício à espera meses e meses de que alguém lá vá, olhe para ele, o consulte e devolva à prateleira sem criar algum carinho que seja pelas suas páginas amareladas.

Como disse lá vou sobrevivendo nos alfarrabistas que me compreendem, e ás vezes até me enviam os livros para casa, mas este acto heróico destruiu-me a vida, acabaram-se as turtulias, há meia dúzia de chefes das elites que repudiam estes meus actos impossibilitando o contacto humano ou as tardes que passávamos nos cafés bebendo a discutir ou simplesmente passando o tempo olhando os transeuntes.

Peço desculpa pela minha ausência forçada, mas tem razão de ser, é algo que certamente uma pessoa como você irá compreender.
Espero que os livreiros se esqueçam, quando tal acontecer terei o maior prazer em dar uma volta pelo chiado e voltar a encontrar-me consigo e talvez dar um passeio na Bertrand.

Cumprimentos
José Francisco Marques


terça-feira, 10 de maio de 2011

de novo não

Interrogo-me muitas vezes ao não escrever sobre o que sou,
fico sozinho e nunca me pergunto para onde vou,
caderno em branco
ou carta livre nunca me dá para escrever tanto,
fico-me por meia duzia de letras ou tristes versos,
nenhum deles de sentimento franco.

Pensamentos perdidos,
os reais saberes submersos,
esses nunca ficam realmente retidos
ao que me interessam esses universos.

Tenho tanto para dizer e essas palavras não passam de tristes órfãos,
tão sublimes e ignoradas letras que outros poetas convocam,
emparelhadas rimas em simbiose, orgias de tons,
onomatopeias e dores que me provocam.

Sou sempre deambulante,
perdido turista provocante,
real ignorante
a quem escreve de forma constante.

Sou sempre aspirante,
de tal forma irritante
que me deito de forma arrogante
querendo ser mais importante
olhando estes textos tão pobres
que anseiam beleza,
a nenhum poeta são esfoliantes.
Sou e serei sempre
uma constate tristeza.

Tanto querer demonstrar
tanto sentir a derramar
estas fracas letras
não seguem minhas franquezas.

Resigno-me então
ao pouco que posso dar então.
Não sou nada não.
Leiam outros, peço perdão.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Rimar é irritante

Homem culto, trabalhador, experiente, sempre desejou coisas boas aos outros e até a si mesmo, sempre teve boas ideias, nunca brilhantes, mas ideias.
Desejava muito ao mundo, mas a si queria o maior e menos possível dos quereres. Homem rico de espírito e de sonhos louvado, queria humildemente ter um livro seu, da sua mão, do interior rebuscado, todo ele escrito numa deliciosa prosa simples e formosa, mas o pobre sofria de uma contrária e secreta vontade.
As ideias etéreas, mais singulares no universo saem em verso e ele entristecia porque desta grave doença padecia. Escrever o sentimento em triste rima ah isso ele não queria.
Rimar, que coisa horrível de criar, ele dizia, limitam, irritam e fazem pobre a frase que era viva.
Triste e irritado de si para si se ordenou a não escrever, os cadernos em velhas estantes abandonados por lá ficaram esquecidos devido ao homem vencido, nunca mais foram reclamados por alguém que os pudesse ler.
A pouco e pouco esse velho se desenRimou
e a contra gosto o seu corpo o abandonou.
Ignoradas obras, sonetos e livros,
muito cedo a sua alma evaporou.
Lá foi o velho à outra vida sem seus amarelos manuscritos.
Talvez um Camões ou Pessoa melhorado,
deu a vez à teimosia e morreu resignado.
Não foi prosa que ele deixou,
não foi a formosa que amou,
foram os mais belos poemas o seu legado.

Assim foi um destino pela poesia interior traçado,
parelhas de rimas irritantes em versos encadeados,
para sempre esquecidos
para sempre ignorados.

Tudo pela teimosia.
Vontade de rimar.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Outros dois

Olá?
Uma pessoa que não conheço cumprimenta-me.
Pelo que foi em tempos, revela-se um cumprimento de alguém que talvez me conheça, talvez eu a tenha conhecido...Um género de olá, dito e oferecido sem valor a alguém que não sabemos realmente quem seja.
As décadas foram rápidas a passar, e os anos passam como segundos em vida de quem vive o dia a dia e não olha para trás, os séculos tornam-se diariamente coisa passageira , as lembranças escapam-se por entre os dedos que mal fazem esforço por as agarrar.
A pessoa que me cumprimentou conhece-me tão bem como eu a conheço a ela, também ela sonda o seu passado e revela uma inexactidão sobre não saber quem foi.
Em demorado olhar entrelaçado, estes dois que aqui se encontram não choram,
pois não sentem saudades,
não sorriem,
pois não se reconhecem,
não se odeiam nem se amam,
pois já se esqueceram.

Eu retribuo um inocente olá, agora embaraçado tal como ela. Estrangeiros de nós mesmos, estamos é claro cientes e embaraçados de um dia nos termos conhecido, mas hoje, depois de tantos séculos passados ignoramos quem fomos, sem pena do que foi.
O embaraço foi simples,
e de ombros agora erguidos
corremos em seguida a rua
cada um para o seu lado esquecidos.

Não tem grande importância para estes dois.
Não se odeiam nem se amam,
são hoje outros estes dois.
Já se esqueceram.


quarta-feira, 13 de abril de 2011

Vergonha?

Tenho vergonha. Tenho mesmo vergonha.
Olho para trás e nestes anos o tão pouco que se passou fez-me rever o que fui num distante e enevoado de vergonha.
Talvez como será daqui a outros poucos anos.
Irei viver a vida em constante vergonha de mim?
Esquecendo-me e ignorando-me?
Deveria ser em constante crescendo, a evolução da vida para um dia não ter pena do que fui, mas ahhh, será só mais um delicioso e mórbido viver cada vez mais evoluído, todo ele um futuro, construindo e aperfeiçoando uma nova e melhor vergonha.
Vivemos para a vergonha, vindos da vergonha, olhamos para trás e gritamos sempre algo não diferente de isto:
"OH GLORIOSA vergonha que fui, que fiz o que não faço, que vestia o que não visto, que vivia o que não vivo, que era o que não sou."
Ah cérebro evoluído seu maroto assacanado, obrigas-me a esquecer para não ter vergonha?
Uma autodefesa de nós mesmos?
Pois envergonha-me o esquecer, não lembrar, não reviver enfurece-me, não recuperar tempos perdidos.
Para que procuramos em eterna demanda perdida nas mais antigas das velhas filosofias da Grécia antiga até aos modernos e aborrecidos dias de hoje, um tão alto significado tão nobre para essa gloriosa e épica Raizon d'être, se na verdade somos cães, gatos e porcos ou outros demais animais que sofrem a existência de se fazerem e desfazerem em questões?
????????????????????????????????????????????????????????????????????????
Mas de animais além da questão não somos mais do que bichos sedentos da sua refeição, do sexo alcançado, do verdadeiro prazer, de dormir em longas sestas e outras coisas mais, mas sempre com um certo medo de morrer!

Atrás de nós temos um esquecimento puro, já mais próximo arrastamos a velha e sempre presente conhecida vergonha, enquanto que enfardando no presente nossos sentidos afogados em orgias de prazer nos cegam o futuro.
Só não somos porcos e galinhas porque temos vergonha do ontem, não o somos porque nos perguntamos constantemente, Serei porco? Ou Galinha?
Somos humanos, porcos cheios de questões e cheios de vergonha.
Pois eu faço questão de ser porco, sem vergonha ou outras questões vinculadas.
Até porque ouvi dizer que tais animais têm orgasmos longos de quinze ou mais minutos.
Ah...
Aposto que amanhã ou para a semana vou ter vergonha de tudo isto.
Isto é, se não me tiver esquecido.

sem mais folhas para escrever

Quantas vezes.
Quantas vezes pergunto,
quantas foram as oportunidades perdidas?
Outros que não eu?

Quantas vezes?
Te abriste a mim, para receber,
eu te arranhar e contar.
Escrever na tua pele os mais belos poemas,
tão longos e esquecidos, tão lúcidos e por si iludidos
(principalmente pelo esquecimento).
Companhia constante para mim,
que de presente não aceite, acabaste por ficar
a ouvir-me até ao fim.

Que será de ti depois?
Quando os folheados acabarem, as capas se rasgarem e os bichos as triturarem...
Que será dos versos, das lágrimas, das folhas arrancadas,
desenhos ou lembranças e as consultas privadas de psicólogo?
Que será quando eu já não souber o que fui, que escrevi e reli?

Serás, Velho Caderno uma linha solta no destino que tal como eu desaparecerá sem que alguém se importe ou faça caso de recoser.
Queimarás mais tarde ou cedo, como eu.
Ficarás esquecido, tanto como eu.
Mas não faz mal, as pessoas são linhas soltas que se perdem umas nas outras sem se importarem de onde os outros vêm e vão, o que importa é de si para si.
Consola-te. Deite vida.
Não tanta como tu a mim, é certo.
Mas agora que és vida, pessoa, ser, linha solta no destino, resta-te enfrentar os dias até ao fim.
Quando as folhas acabarem e fores fechado, tu selado serás perdido e esquecido.
Tal como as pessoas essas que têm vida serás esquecido.
Foi o meu presente para ti.
Tu que eras um presente que não era para mim.


sábado, 9 de abril de 2011

São coisas tão simples.
Por vezes os mais simples dos dizeres não passam pelas mais simples palavras.
Estragam tanto o resto existente porque não entendem que a vida é uma simples linha,
uma recta linear e submersa a quem ninguém interessa,
simples,
cheia de ausencia de palavras,
cheia de frases perdidas,
recheada de condições contrárias e certas,
tão certas como irreais.

São simples coisas.
Coisas simples que se prendem,
não entendes,
nunca vais entender.

Um dia irás perceber que o simples
de todas as razões pertence ao mais simples dos
seres.
E tu como todos os outros nunca vão ver.
Porque tu tal como todos os outros vão estar iludidos pelos
receios de se compreenderem.

Escapa ao humano a vontade de se entender.
E tu,
sim tu,
nunca o irás querer.

E se um dia,
oh, estás mais longe de todos os outros como alguem já esteve.
Não irás voltar,
ninguém sentira tua falta ou tu saudades.
Serás algo mais que o que foste.
Um sujeito longe de si.
Serás alguém que não tu.
Vais ser a própria ausência de ti.

terça-feira, 29 de março de 2011

Resigno

À medida que me deito enregelado
nos meus lençóis frios,
tremo,
é um tremer sujo de um extenso dia comum como todos os restantes comuns,
como todos os que se levantaram de manhã e se deitam à cama,
todos igualmente esperando o amanhecer comum de ir para uma vida comum.

Enrolo-me sobre a minha almofada desgastada e pesadas mantas,
fico só eu e o candeeiro velho de luz amarela,
a luz e um velho livro,
tão velho quanto eu,
tantas vezes o li, como o transportei ao fim do mundo que atravessei.
Abro tal relíquia marcada com um bilhete de comboio esquecido,
não trás surpresa alguma a cor de papel antigo,
embala-me o cheiro que a velha casa de avós trazia em tardes de verão,
linha por linha,
verso a verso,
viajo pelo mundo dos sonhos, sentindo os dedos do poeta a arranhar
com sua rápida caligrafia, letra a letra, trazendo até mim
o sossego de uma extensa vida tão comum quanto eu e todos outros,
tão comum, tão nobre o verso anterior como será maior o seguinte.

Cobre-me com tal calor o sentimento desprendido do poema fingido, que
caio de joelhos perante a minha submissão a tão grande genialidade,
e choro, choro como uma criança perdida da mãe,
choro de raiva perante o génio,
choro de inveja por de minhas mãos comuns iguais às de outro homem tão simples como eu
ter produzido a mais bela versão da vida em tão poucos versos.
Choro, choro por rendição, querendo esquecer todos os belos versos do homem, para um dia eu os escrever.
Sou insuficiente, triste me rendo a tamanha beleza.
São coisas de rapaz, esse que sonha a um dia conseguir transportar sobre o encadeamento das palavras tão bem ordenadas o seu real sentimento, ainda que grite em pulmões rasgando verso atrás de verso seu profundo sentir, o rapaz chora por nunca ter num papel seu sentimento.

Faz de lembrança o cheiro do livro, faz tremer o dia comum que me deita, faz-me chorar o verso seguindo outro verso, cada um descrevendo tudo o que sinto como sempre o quis dizer, como sempre não o consegui, que pouco me importa a luz no quarto mal iluminado.
Sou rapaz comum, de gente comum, em mundo comum, vendo o mundo a passar chorando de inveja perante os homens que viveram sentiram e a nós fazem chorar com simples letras juntas, por regras antigas, cada uma encadeada nas palavras mais belas que o mundo alguma vez já viu.

Deito-me enrolado, em almofada desgastada, amarela de luz tão usada, tal como o livro fico por aqui, fechado sobre mim, relembrando o mundo que vi e não vi, sonhando o que sempre quis ou nem sei poder sonhar, choro perante as paredes velhas, por ser só eu quem minhas mãos soletram, versos mentirosos que nem sentimento fingem.

Oh fosse eu outro que não eu,
outro,
não rapaz para toda a vida,
mas um ser que sabe sentir,
que sabe fazer ver o que é sofrer,
que não se emaranha em parágrafos ou virgulas mal postas.
Sou o que não sou.

Adormeço ouvindo ao fundo a beleza do sentimento relido.
Adormeço esquecendo quem sou,
sonhando o que sempre esqueço.
Esquecendo que sonho.
Vou adormecendo esperando de forma comum,
o amanhecer comum.

"(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)"
Álvaro de Campos, 15-1-1928

E fico sempre impotente, lendo e relendo, revendo estes versos que não sou aqui nada do que previ conquistar.
Fiquei-me
como ele diz
pelo sonhar.

quarta-feira, 23 de março de 2011

?

Ah, o amor,
coisa enregelada
que nos enrola o estômago,
que nos gela a voz e faz vibrar o olhar húmido
numa saudade
de relance
instante.

Ah, coisa essa que nos entristece,
que nos esfria
e depois aquece,
amor de beijo exaltado
calor quente,
cama fria
e dor,
para quem sente,
é o este o sufoco de quem
mal tratado
tem o coração doente,
esse que adoece.

Oh triste ser.
Esquece tudo do que hoje é dia
que amanha não nos vai
pertencer.

Amanha não é ,
não é coração de crente,
resta o amor do
velho pertence.

terça-feira, 22 de março de 2011

O anónimo da mansarda gritou

Folheio o jornal,
hoje não me irritam as noticias,
hoje são tão aborrecidas como ontem,
são tão burocráticas,
tão corruptas,
tão revoltantes...
A vontade é revoltante, e tão serena,
hoje irrita-me outra vontade,
a vontade de outros que são artistas.

Artistas de ser artista,
senhores de poiso,
contemporâneos revestidos de cores e outras tretas abismais,
descuram o sentimento verdadeiro dos que criam por
serem verdadeiros sofredores do viver.

Merdas que se saltitam,
merdas que se atropelam,
cada um mais sedento de poiso,
cada um mais revoltado com a escuridão certa,
ah, ninguém chora, ninguém os vê,
os olhos estão centrados noutra vida.
Os olhos já não são de quem tem,
mas para quem quer um ser diferente
não ficar só porque sim no alto pedestal.

Danem-se estes senhores cheios de si,
cheios de outros senhores que os ensinaram a sentir.

Danem-se todos que no meu ser a dor é minha.
E a mim seus bonecos, ninguém me ensina a sentir.

Vão, subam ao poiso, hipócritas de fado,
a lágrima pertence a quem deu,
a quem sofreu,
porque os todos os outros,
ignóbeis da vida, vocês dizem:
NINGUÉM SER.

Fodam-se então.
É minha a dor.
A dor de quem vive.

Não a quem a si diz ser alma de artista,
esses que se criam, que vêm e vão,
não lhes tem o pertencer,
não lhes dá a sede de existir
em busca de uma luz rebuscada à sombra.

A-R-T-I-S-T-A,
ARTISTA! É palavra tosca,
de quem diz muita coisa oca.
Já todos os outros, nas mansardas p'lo mundo espalhados,
são Homens, "Génios", desconhecidos no viver,
desconhecidos das elites.
São quem vive,
quem realmente vive e sofre, não inventam dor.
Senhores da vida, Reis da MANSARDA.

Criam poemas e com eles adormecem,
e todos ficam, cada um dos reais génios,
embalados nos seus poemas,
dançando nos seus quadros,
dormitam no sonho REAL,
esses artistas, esses génios,
esquecidos do mundo,
esquecidos de si.
Esquecendo a dor.

sábado, 19 de março de 2011

Mude a sua vida em 7 anos

Se de noite a vontade de ser prolonga-se
de manhã a vontade é assustada.

Se ontem era raiva,
hoje o cansaço destroçado e usado pelas lágrimas que se empurravam
é hoje o desfalecer.

A dor gritava,
Antigamente a dor tinha um contorno simples,
era pautada pelo verdadeiro sofrimento,
hoje a dor sente-se como língua de farrapos.
Indiferente para si, para os outros, sem ópio
usa-se de si para tudo contornando o segredo das entrelinhas.

Talvez por o calo estragar o prazer de sofrer.

Os acordes são ocos.

Dias antigos eram dias, noites eram noites,
agora é jorna, sem descansar, sem tirar as botas, partimos para outra jorna.
Indiferentes.

Indiferente à dor que passa na rua, recosto-me na cadeira sem o deliciar da musica,
enrolo o cigarro, se a janela trás luz, se entra alguma...
Se a musica toca, se grita...
Indiferente fico.
Indiferente fumo.

Sei que um dia queria não pensar, não ter dor.
Hoje fico indiferente e fumo.

"E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto."
Tabacaria - Alvaro de campos

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Pobre do homem que se atropela perante si mesmo,
aquele a quem o que vive se transporta para alem do que é.
Triste aquele que de si para outros é um além do que já foi,
um ser que transborda o transparecer de outrem,
sem que seja de forma alguma aquilo que é,
que representa.
Que seja um e cada um de nós o que somos, o que não queremos ser, e o que desejamos ser,
tendo como a cada um o ponto mais alto, o querer do nosso sonhar,
o que pertence é um pertence maior de mim e vós que se perguntam o que representam tudo isto.
Não nos atropelemos perante vontades, que a vontade não é maior que o sonho,
respeite-se o sonho,
esse senhor de terras férteis,
senhor de pobreza incomensurável.

Se te atropelas e és mais teu que nosso,
vai-te mais longe do que a ti te encontras,
se algum dia nos vires,
verás que a vida é mais que teu ser.
Homem triste que não é mais do que o que foi.
Triste o que foi,
triste o que já nunca mais é o que era...
triste o homem que se revê num passado,
mais presente que este que se pretende.

Oh triste e ignóbil ser de feridas estancadas,
meu ingénuo ser inanimado do que é um amor,
esse amor perante a vida.
Triste és tu que não sonhas.
Triste és tu que foste,
e nunca o serás mais que o foi
resta-te a ti como a mim,
relembrar o triste fim do que foi para um,
triste e maior fim, prestes a alcançar.
Aquele ao qual somos invisiveis.
Tristes seres que somos perdidos.
Fiquemos,
tristes,
inseguros,
á espera,
do mundo que seja um dia nosso.
Porque um dia o foi.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sair de casa e meter as mãos nos bolsos, encontrar um bola de neve, um isqueiro e um maço de tabaco, bato com as mãos no rabo e encontro um bolso vazio, no casaco não há bolsos, e o passeio desenrola-se com uma paz simples, para onde vou não sei, não sei que horas são, e ninguém sabe para onde vou, e onde vou estar.
Qualquer pessoa que telefone para o telemóvel encontra uma senhora simpática em gravação, ninguém sabe que vou passear ao monte, como faziam meus familiares com a minha idade, mas não era passeio, eles deslocavam-se à vila sozinhos ou de burro, e hoje não há muitos burros por ai dispostos a emprestarem os costados para um "deslocamento", devia ser assim, sem ondas digitais a atrapalharem a vida analógica, simples.
No tempo livre inventam-se coisas para se fazer, não se usa o inventado.
Inventa-se o passeio como antigamente, e a sensação é de liberdade.
Sou eu sozinho no mundo.
Invenções, invenções...
Nada de novo no mundo, são só invenções...
Já estás a inventar

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Alta baixa montanha

Então vossemecê não sabe que isso não passa disso?
Ide para onde for, veja o que vir, não passam de estórias a contar.
Pode até dar a volta ao mundo, em cem dias, dez, ou dois, volta e quando lhe pagam uma mini para se soltar a dita estória, revê-se numa invenção de uma meia volta sem mundo que se deu, tal como a novela com meio terço do share.
Empolgue o mundo numa palavra e o mais alto do cume das montanhas não são mais que cabeços com 2 ou 3 arbustinhos e meia duzia de calhaus.
Cague-se lá no suor homem, que à montanha não lhe dá gosto o suor dos que visitam mas o sangue de quem as conquistou.
Mas você viu, reviu, amou e apaixonou o mundo nos seus olhos, mas não é sequer projecto de poeta para aos olhos dos outros fazer sentir o que viu.
Rale-se mais a ver e viver, mais tarde ou mais cedo vai esquecer...
Depois...seja homem.
Faça para ter mais querer.
"Nunca ouviu dizer:
O que os ouvidos não ouvem, a boca não responde?
Pois olhe que agora o mal está feito.
Desemerde-se!"

domingo, 16 de janeiro de 2011

Sonhar?

Os sonhos não se partilham,
os sonhos são meus.

São a companhia que se deita em noites solitárias,
o meu amanhã que trespassa pela mente,
pedaço a pedaço, o futuro que anseio que chegue.

Os meus sonhos são meus,
eles não se partilham.

Viagens solitárias pelo mundo,
projectos megalómanos,
livros ou poemas vertiginosos que me embalam,
criados pela minha própria respiração.

Os sonhos, os meus,
não se partilham,
perdem o encanto,
da mesma forma que ao acordar muitos se espaireceram,
todas as histórias e viagens que se anseiam,
desvanecem ainda mais pelo não sonhar de outrem.

Sonhar oh,
é tão bom sonhar,
são segredos,
o íntimo futuro que se anseia sem vergonha,
só connosco sem rever ou desiludir pela realidade,
sim porque eles não são realidade.

Os sonhos não são realidade,
são a companhia de almofada
que meio acordado e meio a dormir,
me faz viajar ao mais longínquo dos futuros,
onde tudo é bom;
A fantástica terra da fantasia que
os contos de embalar me traziam
onde se volta a ser criança e poder o imaginário,
ser o tudo.

Os sonhos são isso,
voltar a ser criança.
Não os contes aos adultos.