terça-feira, 30 de novembro de 2010

29/11/2010-30/11/2010

Fosse eu outro,
outro que não eu!
Teria mil vinhos a provar, mil essencias a apreciar.
mas a vida entregue cabe-me a mim,
só a mim e não a outro.
Não se despe, não rasga contacto, terei de ser eu a acenar a conhecidos quando não quero, não os conheço.
Não quero.
Falem-se eles a eles quando me vêm.
Deixem-me os doces, os vinhos, as árias, que o mundo é meu para viver, não para justificar porque o vivo.
Porque é meu, sinto-o eu.
Danem-se as justificações,
perante tão pouca vida perdem-se os vinhos envelhecidos, entornados á minha frente, eu pobre assistente, resta-me o triste salivar de os ver derramar.
Quero, oh se quero ser o que quero.
Dane-se o mundo em procriação de enchente boato.
Venha a mim mundo de vós, meus sentidos aguardam adormecer em bebedeira,
meu libido enternecido por querer o teu viver,
bebe o vinho sem uma gota a perder.

É meu o mundo.
Sou eu que o bebo.
Sou eu que o acordo.
Sou eu que o deito.
Cabe-me a mim este,
deixa para ti o falar.

Fosse eu outro....
Viveria como quem não sou.
Porque a viver não estou.
Não estamos.
Tu estás?
Faz tempo que não estou acordado.
Faz tempo que não sonho acordado.
Faz tempo que não penso VIRGULA escrevo acordado.
Se durmo não sonho.
Se vivo não vejo.
Se existo não reparo.
Monótono em mim sou nada mais que estar.
Que será de mim se acordar.
Que terrivel horror, acordar...
Tenho medo de morrer, e quando acontecer não vou reparar porque vou estar adormecido.
Adormecido.

Nostalgia

Já reparou?
Onde está a beleza de um mundo novo?
Se o que se afirma como belo é o antigo...
Paredes grossas de portas tortas, geometricamente horrendas, carregam em si manchas de humidade que transportam a nostalgia de estar salvaguardado pelo tempo.
Ninguém se sente seguro em tão fútil mundo que geométrico e quente não tem os séculos de experiência de ser bom para todos.
As paredes de família viram gerações nascer e morrer, com histórias por contar cantam estórias para adormecer...
Mas o novo...oh o novo não sabe de nós, não sabe do tempo.
O tempo não é já nada para quem vem....esqueceu-se de si...
...Perdeu-se...
Já não se encontra o antigo que desistiu de se existir por ninguém o procurar.
Deveriam poder existir pessoas, as que quisessem, como intocáveis fora dos que nem sabem quem são mas de progresso embandeirado invadem o virgem puro mundo da nostalgia.
...
Fala-me a saudade. Não me tem conforto a vida no mundo admirável triste novo que vem, que estraga o que sempre foi.
E o que vem, é fútil, vazio, novo, frágil...
Fica a lembrança do que foi, robusto, milenar, antigo...
Vão-se as raízes de uma árvore ancestral para plantar flores, belas que cedo murcham, enganam os sentidos e remoem a terra, destroem as raízes, vão-se as raízes...
Vamos recordando...
As raízes, essas, cresciam em nós...
Hoje é tudo Outono, sem a beleza das folhas a cair.
Engraçado, não a piada que tem, mas curioso.
Revolver um caderno com coisas antigas, pergunto:
Quem era eu?
Não é raro ter vergonha de me reencontrar, por vezes até medo.
Não entendo quem o escrevia, não entendo.
O que me aterroriza é não saber quem é hoje.
O que sou?
Para quem escrevo?
Que eu para que outro eu de mim?
Aumente-se a escala de terror.
O pânico.
Quem vou ser eu amanhã?
Só mais uma pergunta. (afirmo)
Como vive toda a gente?
Sem saber quem é? Sem se perguntar?
(É a mesma pergunta, mas separada por pontuação)

Aguardo ansiosamente resposta de mim.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Não

Existir, é um anuncio tão simples como o de desaparecer.

Como em tantos momentos desejamos ser um pouco melhores do que somos, percebemos que é feita uma analise concreta ao interior da nossa alma, percebemos que o mundo não é simples, percebemos que não somos bons para ninguém sendo bons para todos.

Existir, não é nada mais que sermos nós mesmos.

Existir é não olhar.

Quando o mundo olha para si mesmo.

Quando desistimos de ser algo mais que para os outros, percebemos que somos uma parte do mundo, já que o mundo que recebeu tudo o que podemos dar, nunca agradeceu ou sequer notou.

Se existir, hoje, é ser parte do mundo?
Eu, quero ser parte mim.

Faça-se uma leve analise de nós.
Ser o que quer, cada um, é tão difícil como não querer.
Faça-se a vontade, a minha.
Sou o que quero.
Como não quero.
Sempre,
ao contrario de mim.