quinta-feira, 19 de maio de 2011

A fraqueza humana provem do esquecimento,
tal é repetição que faz do sofrimento.

Porque não?
Lembrar tudo e tudo querer?
Talvez assim um dia consigamos viver.

Porque estamos condenados a repetir a estupidez que é sofrer?
Quem não queria ser sempre feliz, poder respirar felicidade,
grandes feitos e alegrias?
Tudo de alma cheia, realizada por mundo percorrido,
nunca esquecido.

Infelicidade essa que é esquecer a felicidade.
Esquecer o sofrimento, aquele cruel sofrimento que nos avisava que a felicidade se estava a acabar.
Cruel vida esquecida, cheia de coisas perdidas que nunca nos lembra o que realmente precisamos conquistar.
Cruéis estes versos, que mal chegam a ser versos.
São tão inteiros como esse esquecimento,
a real origem do negro sentir que ai vem.
Aquele que não lembro.
Porque fui feliz,
sofri,
senti,
pensei,
esqueci.
E hoje sou uma amalgama de buracos sem saber realmente o que fui,
o que vou ser?
Talvez esquecido do que sofro agora.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

calar

Passam um pouco distante por ai essas vontades das pessoas,
que não há ninguém que não fale,
ninguém que não se cale,
no entanto poucos ouvem
o que essa conversa contem.

Ficar a ouvir tanta gente a falar,
tanta conversa a estragar,
dá me vontade não estar.

Pouco se aprende neste andamento,
mais vale ler um livro,
e como os outros vou fingindo, existindo
o tal e qual que não sou,
mas vou sendo.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Caro senhor Fernando do Brasileira.
Desde há algum que estou restrito das ruas, dos cafés, dos bares e das belas praças.
Tudo porque deixei de frequentar as bibliotecas, de seguida as livrarias eram impossíveis, sobrevivo a passear por alfarrabistas antes da hora de fechar.
Em outros tempos era assíduo senhor das bibliotecas, e elas minhas boas amigas, até que começaram a ver que eu não deixava os livros voltarem ás suas casas, foi então que começou uma perseguição à minha pessoa, os directores destas instituições publicas começaram a trocar impressões entre si sobre a minha pessoa, começaram a perceber que faltavam demasiados livros, toda essa falta indicava sempre a mesma pessoa, eu.

Começaram a organizar-se e a passear pelas livrarias, fizeram uso dessa massa humana que são os bibliotecários e os seus seguidores, depois contactaram as editoras, foi num ai, quando dei por mim estavam pessoas estranhas de óculos a seguirem-me no meio de estantes empoeiradas, cheguei a encontrar chips entre a contra-capa para tentarem localizar o tesouro dos meus livros emprestados...

Não posso ter culpa de não devolver os livros, quando vou a uma biblioteca escolho o órfão lá localizado e adopto-o, trato cada página como minha, cada letra acariciada e suspirada numa palavra bem dita, todo lido em voz alta. Que culpa posso ter se não os devolvo?
Sabe-se lá o que podem essas pestes que por ai andam fazer aos pobres órfãos, um livro de uma biblioteca. coitado, não merece esses destinos, ficar abandonado no meio de um velho edifício à espera meses e meses de que alguém lá vá, olhe para ele, o consulte e devolva à prateleira sem criar algum carinho que seja pelas suas páginas amareladas.

Como disse lá vou sobrevivendo nos alfarrabistas que me compreendem, e ás vezes até me enviam os livros para casa, mas este acto heróico destruiu-me a vida, acabaram-se as turtulias, há meia dúzia de chefes das elites que repudiam estes meus actos impossibilitando o contacto humano ou as tardes que passávamos nos cafés bebendo a discutir ou simplesmente passando o tempo olhando os transeuntes.

Peço desculpa pela minha ausência forçada, mas tem razão de ser, é algo que certamente uma pessoa como você irá compreender.
Espero que os livreiros se esqueçam, quando tal acontecer terei o maior prazer em dar uma volta pelo chiado e voltar a encontrar-me consigo e talvez dar um passeio na Bertrand.

Cumprimentos
José Francisco Marques


terça-feira, 10 de maio de 2011

de novo não

Interrogo-me muitas vezes ao não escrever sobre o que sou,
fico sozinho e nunca me pergunto para onde vou,
caderno em branco
ou carta livre nunca me dá para escrever tanto,
fico-me por meia duzia de letras ou tristes versos,
nenhum deles de sentimento franco.

Pensamentos perdidos,
os reais saberes submersos,
esses nunca ficam realmente retidos
ao que me interessam esses universos.

Tenho tanto para dizer e essas palavras não passam de tristes órfãos,
tão sublimes e ignoradas letras que outros poetas convocam,
emparelhadas rimas em simbiose, orgias de tons,
onomatopeias e dores que me provocam.

Sou sempre deambulante,
perdido turista provocante,
real ignorante
a quem escreve de forma constante.

Sou sempre aspirante,
de tal forma irritante
que me deito de forma arrogante
querendo ser mais importante
olhando estes textos tão pobres
que anseiam beleza,
a nenhum poeta são esfoliantes.
Sou e serei sempre
uma constate tristeza.

Tanto querer demonstrar
tanto sentir a derramar
estas fracas letras
não seguem minhas franquezas.

Resigno-me então
ao pouco que posso dar então.
Não sou nada não.
Leiam outros, peço perdão.