quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Memórias Párias II

Atravesso á velocidade da luz as paredes de minha casa.
Ultrapasso as cores das arvores, elas deixam os seus movimentos para trás.
Percorro um espaço infinito num milésimo de tempo nulo.
Regresso ao meu local estagnado.
Oiço o nada e ólho o espaço vazio.
Estou completamente em paz de tudo o que existe.
Tenho aqui o meu local só.
Aqui não penso, não existo, mas gosto de estar aqui, no local onde posso estar em paz.
Olhei no meu vazio e vejo um ponto, este ponto aproxima-se cada vez mais, começa a transformar-se em algo cada vez mais familiar.
-O que fazes aqui?
-Vim descansar para o meu poiso em paz.
-Mas este é o meu local do nada, aqui é que eu me refugio, ninguem pode entrar aqui, ninguém pode invadir este local.
-Temos pena, eu sempre vim para aqui, talvez por acaso não nos tenhamos encontrado, não sei faz o que tu quiseres mas aqui não ficas, este é o meu vazio.
-E se tu fores um pouco mais além ao infinito no vazio e fiquemos em paz ainda que distantes?
-Achas mesmo? Isto é o infinito, o vazio, volta e meia iriamos passar um pelo outro , aqui não existe atrito, a nossa velocidade é o pensamento, não ha luz e nem a sua ausencia, isto é o nulo.
-Eu bem sei que o é, daí eu sempre ter gostado de estar aqui a pensar como é bom não pensar, sabes? É estar feliz.
-Sim eu sei.
-E agora? Onde vamos encontrar um vazio para cada um de nós?
-Não sei, eu até o partilharia contigo, mas sabes... eu detesto-te.
-Hmm..sim eu tambem te odeio.
-E agora que fazemos?
-Temos que ocupar o tempo de alguma forma não?
-Ora... aqui não há tempo.
-Hmm.. e se eu te matar?
-Duvido, isto é a minha mente, tu és minha não me poderias matar.
-Não seria a primeira memória a matar alguem.
-Mas serias a primeira a matar-me a mim, e provavelmente a ultima.
-Não quero saber, vou ficar aqui.
-Então fica, eu vou continuar a mudar até encontrar o meu lugar, e um dia nunca me encontrarás.
-Boa sorte!! Não te esqueças, eu faço parte de ti, experimenta a falar com o coração. Sempre o podes arrancar e talvez me expulsar.
-Um dia vou-te substituir sabes?
-Não brinques com isso, tu até gostas que eu esteja aqui a invadir-te.

Mitghefüll

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Memórias Párias I

O despertador toca bem longe de mim, não tenho bem a certeza se o real tem os apitos ou o sonho tem o real do sabor matinal.
Sinto-me perguiçoso e quero durmir mais, mas o subconsciente relembra-me que hoje é dia de escola e não me convem faltar...
Mas eu não ando á escola....que estupidez...
Levanto-me, tomo banho e visto-me, faço a cama por ainda ter sobrado algum tempo.
Viver fora de casa tem a desvantagem de nunca me fazerem a cama.
Agarro o casaco que habitualmente se prende á porta do meu quarto, fujo em passos cuidadosos na esperança de não acordar o resto do pessoal que dorme no resto dos quartos.
Abro a porta, coloco os óculos impedindo o sol de me encandear e sinto o cheiro de uma manhã de inverno.
Tenho uma enorme sensação de Deja Vu...
Faço o caminho como se o tivesse feito durante anos, mas como se fosse a primeira vez que o faço.
Cheguei ao café e ao abrir a porta inalo o cheiro de cafés recém tirados e de torradas recém torradas, é o aroma de um passado antigo onde eu não pertenço. Não percebo porque estou aqui.

Ao entrar no café olhas-me rodeada de gente, são pessoas minhas conhecidas mas distantes na minha memória.
Acho que estou a sonhar, na noite passada deitei-me sozinho na minha cama arrefecida, eu estava fora da cidade das recordações, refugiado na minha pequena vila confortavelmente establecida entre a serra e a planície...
Eu estava anos luz destas memórias agora vividas.
Não entendo como vim aqui parar.

Mas sinto dentro de mim um calor estranho...penso ser o calor de uma felicidade á muito encontrada...á muito perdida.
Entreolhamo-nos e aproximamo-nos, tu reages de forma banal como se tivessemos esta partilha de amor todos os dias desde o principio do mundo, eu aproximo-me para te beijar e tu respondes como se o nosso futuro fosse infinito.
Sim eu lembro-me... nós eramos felizes...

O mundo mexe-se á minha volta e perco o equilíbrio...perco os sentidos..
Acordo dentro de um local famíliar, acordo dentro do carro de um amigo.
A sensanção de Deja Vu corróe-me a mente, rapidamente me encho de sensações antigas...
Saímos do carro, com o vapor a sair na nossa respiração, entramos numa terra pouco conhecida.
Um grupo de rapazes entra na sala escura e sentamo-nos...
Observamos o teu espectáculo.

Eu rio, saboreando a minha felicidade extrema de ignorancia e estupidez.
Vejo-te la ao fundo.
Lá fora esta frio, cá dentro está calor, soam as musicas familiares de natal.

Subtilmente encontro-te no labirinto escuro deste teu mundo privado. Tu encontras-me surpreendida e abraçamo-nos.
Acho que foi aqui que encontrei o meu momento, o nosso momento.
Tanto-me faz que la estejas, agora eu ja não pertenço lá.
Isto são só memórias revisitadas.
Mas este foi o meu momento, o nosso momento, o calor e a felicidade por entre beijos e sorrisos,
tu com o gorro que te ofereci, eu feliz por ter frio e imenso calor.
Foi assim há muito tempo, o meu/nosso momento de felicidade extrema.
Foi assim para sempre?

Ao acordar sinto finalmente o choque dos meus lençóis frios, o cheiro familiar do meu refugio fora da cidade das lembranças.
Gostaria de um dia poder viajar na minha memória para locais diferentes...
Talvez um local que não doa deixar de relembrar...
Talvez um por do sol.
Quem sabe um dia eu relembre a felicidade no presente.

Mitghefüll

terça-feira, 13 de novembro de 2007

De um momento para o outro II

Consigo ver o pôr do sol...

De um momento para o outro, dentro do meu mundo cinzento encontro uma cor.
Caminhando e cantarolando musicas doces, deslizas pelas ruas olhando-me ao longe.
De um momento para o outro esqueci séculos de dor na solidão.
Olhei-te olhos nos olhos, era um presente leve sem dor, era um futuro esquecido pelo prazer do sentimento presente.
Olhos castanhos profundos de sabor, transmitem felicidade e prazer.
Ao toque de suavidade sentimos amor.
Ao toque dos lábios partilhamos calor.
Sentindo a estranheza, deste sentimento entre desconhecidos intímos.
Intimamente envolvidos, apaixonados...ambos pelo desconhecido.
Dois desconhecidos apaixonados.

Talvez...
Mas quando tudo acaba, o seu olhar foge...
Deixando-me com a dor da lembrança abandonada.
Relembrando-me o frio do poço.
Relembrando-me o beijo da visita cinzenta.

A pouco e pouco vou caindo no abismo.
Caindo nas águas turvas de mão levantada.
Eu espero que me agarrem... mas não há esperança.

Desta vez... é diferente...
Desta vez...sou adulto..
Desta vez... sei sofrer..
Sei ter frio e ignora-lo.
Sei que como vi cor uma segunda vez...
Poderei voltar a ouvir a musica novamente.

Desta vez sei como sofrer, sei sentir o frio, sei esperar pelas visitas da solidão.
Desta vez sei esperar pela cor.
Não me importo, ja estou habituado.

Mitghefüll
Imagem: Local- Marina da Amieira
Data - Sexta 2 de Novembro
By: me

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

De um momento para o outro I

De um momento para o outro, a felicidade, as carícias, a companhia, as noites de aconchego na sua respiração, os passeios partilhados, tudo o que construímos durante tanto tempo é perdido.
As relações humanas têm o destino frio e inevitável de ter um fim.
Construimos uma vida perante alguém onde confiamos a nossa pele, partilhamos o nosso coração a alguém na esperança de essa pessoa fazer o mesmo, para todo o sempre de toda a eternidade. Recitamos um ao outro em momentos de climax emocional, poemas de amor em pequenas frases...
"Amo-te...",
"Adoro-te...",
"És minha...",
"És meu.."
"Para sempre..."
Julgamos ser um só com alguem, até nos lembrarmos do que é estar sozinho.
Somos afogados em aguas turvas até cair no fundo.
Lá bem em baixo arrancam o coração e cortam-no aos pedaços.
Tornamo-nos frios na solidão do poço gelado.
Ao tocar o peito sentimos a pele fria, a longiqua lembrança de que um dia existia ali um coração acaba por desaparecer. Ouvimos as pessoas passarem lá fora, falam e riem, mas estão muito longe...
Não se conseguem ouvir...a pouco e pouco, perdemos a noção do que é ter calor.
A pouco e pouco vamos definhando...
Como zombies caminhamos pela multidão, pensando num passado dorido e num futuro de tortura solitária, cada segundo por passar tem uma agulha para espetar e dessa forma sublinhar a nossa dor. Ao presente amaldiçoamos cada segundo por se estender demasiado até ao proximo.
A dor é presente, passado e futuro.
A solidão regressada do amor perdido veio ao fundo do poço amarrar-me.
Todas as noites antes de me deitar ela vem certificar-se de que estou bem preso, vem vestida num manto cinzento, beija-me sempre a testa sugando-me a esperança e retira-me a cor dos sonhos.
Como posso sonhar a preto e branco?
As noites não têm fim. O antigo lugar dos sonhos é reposto por pesadelos de lembranças que repetem os golpes precisos de lembranças felizes, um passado que dói.
Olha-se alguem e não se vê a sua forma. Para mim nesta vista desanimada essa pessoa é a preto e branco, não foram só os sonhos a ficar em preto e branco... foram tambem as pessoas.
Os meus olhos toldaram-me os sentidos de sentimentos perdidos.
Não procuro o amor.
Acomodei-me com a visita da solidão, o meu calor é a visita fria que a solidão trás e me recorda que estou vivo.
Não sei o que é o calor.
Não sei o que é ter alguém que tenha cor.
Não me lembro de esquecer a companhia da solidão.
Recordo a multidão a preto e branco, e so quem me acompanha é a dor de manto cinzento.
Caminho pelo mundo e vejo duas cores. Caminho por tudo e todos e so te tenho como companhia...solidão..

Vem ver aqui...estou bem amarrado..dá-me esse beijo...
e deixa-me aqui.. a sonhar a preto e branco...


Mitghefüll

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Quartos pequenos iluminados com luzes amarelas


Tenho saudades de quando partilhava os meus lençóis com conversas...

Mitghefüll