terça-feira, 14 de junho de 2011

Rotinando

Somente em horas tardias se fazem vontades tardias,
a velha vontade de escrever o que vem cá dentro,
ou talvez nada se diga, salta o cansaço sobre todas essas cantigas,
mais que o pensamento aflito, pesam as rotinas.

Sobrevalor de vida à vida, isso nós lhe damos,
horas a cumprir, tempo mal gerido,
já vai tarde o tempo de aborrecer,
prolongar o tempo, sem saber que lhe fazer.

Sendo que o natural seria ir adormecer para a sombra, sentir a brisa que refresca o calor, observar todos os outros que entram na cidade, todos que saem das sombras dos beirais, cada um à sua vida, cada um suportando seu calor para não chegar atrasado. Eu, à sombra, adormecido, aborrecendo o tempo, fumando cigarros, amansando a relva, sonhando coisas antigas.
Quero sonhar coisas antigas, não temer o passar do tempo, não usar relógio, ficar pela sombra sem telemóvel, sem ninguém saber onde estou ou onde fui.
Ser eu, sem ninguém que me pergunte:
Onde estas?
Sempre podia responder:
Não sei.
Quem de nós hoje crescido tão crescido e de carteira preenchida pode dizer:
Não sei,
nem onde estive,
nem onde estou,
nem onde vou.
Quem adormece só, hoje em dia à sombra?
Tão poucos que não encontro, há sempre tanto para fazer.
Oh,
quero tanto não saber que fazer.

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