terça-feira, 12 de junho de 2007

Quem é aquele?

(O meu velho amigo de escola veio-me visitar na minha vila mãe e ficou espantado com a diferença de mentalidades entre a sua terra e a minha.)
-Que se passa nesta cidade? Eu vim de fora e fui atravessado por olhares desconfiados, mandaram-me embora ninguém confia em forasteiros ja vi, mas até às pessoas da vila não pertence a confiança. As pessoas não confiam umas nas outras, ninguém deixa fiado, niguém empresta dinheiro, todos desconfiam dos outros, cada um fecha a porta a sete chaves, até tu meu amigo desconfias de mim mesmo convidando-me a tua casa.
-É um costume entranhado em todos nós, experiência da vida, lamento é um habito que se perde fora desta vila, mas que se ganha voltando ás raízes, digamos que...aprendemos da pior maneira.
-Aprenderam a não confiar em ninguém? Crianças que duvidam dos pais, homens que duvidam das mulheres, que terra é esta onde cada um dorme com um olho fechado

e outro aberto? Cada um com uma pistola ou faca na almofada, tudo de quarto trancado, não entendo.
-Há um homem que está a durmir á igreja, lá é a casa de deus é a unica que não lhe nega a protecção da chuva, a igreja, já o padre... eu levo-te lá e explico-te a história.
(Chegamos à igreja e o meu amigo vê um velho mendigo a durmir à porta da igreja, magro sem carne depois da pele, amarelado da doença e esfomeado.)

-Porque ninguém fala ao velho? Coitado ali sozinho, tenta falar com as pessoas e ninguem que passa lhe dá atenção, nem um pouco de pão, nem uma esmola,Porquê?
-É um velho escorpião, as pessoas ja tentaram confiar nele, mas ele acaba sempre por desiludi-las, ele que tente a sorte dele noutro lado, onde não o conheçam onde ele possa enganar outros.
-Mas porque não ajudar o velho tão pobre e solitário, ele ja deve ter aprendido a sua lição.
-Não acredita que não, por isso lhe chamamos um velho escorpião.
-Porque velho escorpião?
-É uma historia antiga se ta contar percebes, é a historia do escorpião e da rã:

«Arde a floresta num fogo
incêndio cru e violento,
fogem os animais em espanto
em busca de salvamento.

Correm até ao rio,
mas param na sua margem,
Quem não sabe nadar,
acaba aqui a viagem.

Um escorpião em desespero
pede ajuda à meiga rã
se ela não o socorrer
estará morto pela manhã.

"Tomas-me por parva a mim,
que te conheço de gingeira?
Antes da viagem acabar,
matas-me à tua maneira!"

"Não sou louco a tal ponto,
também gosto de viver...
Se te fizer algum mal,
também eu vou morrer"

O coração amolece
e rã, toda ternura,
dá boleia ao escorpião
e começa a aventura.

Nada a rã até ao meio
do rio que os vai salvar
sente uma picada nas costas
e não quer acreditar!

Seu corpo envenenado
vai ao poucos parando
e afunda-se nas aguas
estão-se os dois afogando!

"Oh escorpião traçoeiro,
assim vamos morrer!"
"É assim que eu sou...
E nada posso fazer"»

-Pobre velho escorpião, destinado a ser ignorado.
-É a sua natureza, quem o ajudou foi traido, roubado ou desiludido. Já ninguém sabe o que ele pode fazer de diferente, afinal, ninguém mais quer ser picado, apesar de todas as suas supostas honestas promessas, todas com destino a tentar amolecer o coração de cada um.
-Eu acredito na bondade humana, afinal de contas é só um velho com fome, que mal me pode fazer? Certamente não me vai traír, ou mentir, ou roubar eu vou ajuda-lo , afinal, ninguém morde a mão que o alimenta.
-Meu velho amigo estás á tua sorte, eu bem te avisei.

(Uns dias depois o meu amigo voltou, desiludido com a humanidade,o velho mendigo mais pele que osso roubou-o meu amigo de tudo o que tinha, mais um que havia sido picado. O meu amigo mudou-se para a vila, aqui estava entre desconfiados da raça humana.)

Mitgefühl
Versos da rã: http://activarte.blogspot.com/2005/10/o-escorpio-e-r.html

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