sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Memórias Párias I

O despertador toca bem longe de mim, não tenho bem a certeza se o real tem os apitos ou o sonho tem o real do sabor matinal.
Sinto-me perguiçoso e quero durmir mais, mas o subconsciente relembra-me que hoje é dia de escola e não me convem faltar...
Mas eu não ando á escola....que estupidez...
Levanto-me, tomo banho e visto-me, faço a cama por ainda ter sobrado algum tempo.
Viver fora de casa tem a desvantagem de nunca me fazerem a cama.
Agarro o casaco que habitualmente se prende á porta do meu quarto, fujo em passos cuidadosos na esperança de não acordar o resto do pessoal que dorme no resto dos quartos.
Abro a porta, coloco os óculos impedindo o sol de me encandear e sinto o cheiro de uma manhã de inverno.
Tenho uma enorme sensação de Deja Vu...
Faço o caminho como se o tivesse feito durante anos, mas como se fosse a primeira vez que o faço.
Cheguei ao café e ao abrir a porta inalo o cheiro de cafés recém tirados e de torradas recém torradas, é o aroma de um passado antigo onde eu não pertenço. Não percebo porque estou aqui.

Ao entrar no café olhas-me rodeada de gente, são pessoas minhas conhecidas mas distantes na minha memória.
Acho que estou a sonhar, na noite passada deitei-me sozinho na minha cama arrefecida, eu estava fora da cidade das recordações, refugiado na minha pequena vila confortavelmente establecida entre a serra e a planície...
Eu estava anos luz destas memórias agora vividas.
Não entendo como vim aqui parar.

Mas sinto dentro de mim um calor estranho...penso ser o calor de uma felicidade á muito encontrada...á muito perdida.
Entreolhamo-nos e aproximamo-nos, tu reages de forma banal como se tivessemos esta partilha de amor todos os dias desde o principio do mundo, eu aproximo-me para te beijar e tu respondes como se o nosso futuro fosse infinito.
Sim eu lembro-me... nós eramos felizes...

O mundo mexe-se á minha volta e perco o equilíbrio...perco os sentidos..
Acordo dentro de um local famíliar, acordo dentro do carro de um amigo.
A sensanção de Deja Vu corróe-me a mente, rapidamente me encho de sensações antigas...
Saímos do carro, com o vapor a sair na nossa respiração, entramos numa terra pouco conhecida.
Um grupo de rapazes entra na sala escura e sentamo-nos...
Observamos o teu espectáculo.

Eu rio, saboreando a minha felicidade extrema de ignorancia e estupidez.
Vejo-te la ao fundo.
Lá fora esta frio, cá dentro está calor, soam as musicas familiares de natal.

Subtilmente encontro-te no labirinto escuro deste teu mundo privado. Tu encontras-me surpreendida e abraçamo-nos.
Acho que foi aqui que encontrei o meu momento, o nosso momento.
Tanto-me faz que la estejas, agora eu ja não pertenço lá.
Isto são só memórias revisitadas.
Mas este foi o meu momento, o nosso momento, o calor e a felicidade por entre beijos e sorrisos,
tu com o gorro que te ofereci, eu feliz por ter frio e imenso calor.
Foi assim há muito tempo, o meu/nosso momento de felicidade extrema.
Foi assim para sempre?

Ao acordar sinto finalmente o choque dos meus lençóis frios, o cheiro familiar do meu refugio fora da cidade das lembranças.
Gostaria de um dia poder viajar na minha memória para locais diferentes...
Talvez um local que não doa deixar de relembrar...
Talvez um por do sol.
Quem sabe um dia eu relembre a felicidade no presente.

Mitghefüll

1 comentário:

T.Poeta disse...

A memória, como mãe de todas as musas - inspira palavras e constitui-se de espaços imemoráveis. Cabe a pensadores do passado, um pouco como tu o fazes, perpetuar esse sentido essencial da vida que um dia atrás de outro, nos fica.

Grande abraço.

Poeta

evasoesedivagacoes.blogspot.com