quarta-feira, 7 de novembro de 2007

De um momento para o outro I

De um momento para o outro, a felicidade, as carícias, a companhia, as noites de aconchego na sua respiração, os passeios partilhados, tudo o que construímos durante tanto tempo é perdido.
As relações humanas têm o destino frio e inevitável de ter um fim.
Construimos uma vida perante alguém onde confiamos a nossa pele, partilhamos o nosso coração a alguém na esperança de essa pessoa fazer o mesmo, para todo o sempre de toda a eternidade. Recitamos um ao outro em momentos de climax emocional, poemas de amor em pequenas frases...
"Amo-te...",
"Adoro-te...",
"És minha...",
"És meu.."
"Para sempre..."
Julgamos ser um só com alguem, até nos lembrarmos do que é estar sozinho.
Somos afogados em aguas turvas até cair no fundo.
Lá bem em baixo arrancam o coração e cortam-no aos pedaços.
Tornamo-nos frios na solidão do poço gelado.
Ao tocar o peito sentimos a pele fria, a longiqua lembrança de que um dia existia ali um coração acaba por desaparecer. Ouvimos as pessoas passarem lá fora, falam e riem, mas estão muito longe...
Não se conseguem ouvir...a pouco e pouco, perdemos a noção do que é ter calor.
A pouco e pouco vamos definhando...
Como zombies caminhamos pela multidão, pensando num passado dorido e num futuro de tortura solitária, cada segundo por passar tem uma agulha para espetar e dessa forma sublinhar a nossa dor. Ao presente amaldiçoamos cada segundo por se estender demasiado até ao proximo.
A dor é presente, passado e futuro.
A solidão regressada do amor perdido veio ao fundo do poço amarrar-me.
Todas as noites antes de me deitar ela vem certificar-se de que estou bem preso, vem vestida num manto cinzento, beija-me sempre a testa sugando-me a esperança e retira-me a cor dos sonhos.
Como posso sonhar a preto e branco?
As noites não têm fim. O antigo lugar dos sonhos é reposto por pesadelos de lembranças que repetem os golpes precisos de lembranças felizes, um passado que dói.
Olha-se alguem e não se vê a sua forma. Para mim nesta vista desanimada essa pessoa é a preto e branco, não foram só os sonhos a ficar em preto e branco... foram tambem as pessoas.
Os meus olhos toldaram-me os sentidos de sentimentos perdidos.
Não procuro o amor.
Acomodei-me com a visita da solidão, o meu calor é a visita fria que a solidão trás e me recorda que estou vivo.
Não sei o que é o calor.
Não sei o que é ter alguém que tenha cor.
Não me lembro de esquecer a companhia da solidão.
Recordo a multidão a preto e branco, e so quem me acompanha é a dor de manto cinzento.
Caminho pelo mundo e vejo duas cores. Caminho por tudo e todos e so te tenho como companhia...solidão..

Vem ver aqui...estou bem amarrado..dá-me esse beijo...
e deixa-me aqui.. a sonhar a preto e branco...


Mitghefüll

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