domingo, 21 de dezembro de 2008

Crónicas de uma morte anunciada - I (Morte)

Anunciei a minha morte à muitos anos atrás, nasci e gritei em plenos pulmões o meu sopro de vida pela primeira vez anunciando um ultimo.
Cresci consigo ainda que pouco habituado a viver no mundo ocidental onde ela escasseia, cresci num ambiente católico que dá felicidades aos mortos pois vão viver num mundo melhor, o mundo do além onde se é omniconsciente, que gozamos de uma eternidade tanto nas chamas como nos céus na graça de Deus.
Nunca ninguém voltou dos mortos, ninguém me sabe dizer como aquilo é, é triste viver a pensar que tudo isto aleatório do universo cientifico que não é nada. Nascemos e Morremos e não existe consciencia pós-vida, sem um Deus não há deus que nos salve. É triste pensar que a vida não é uma passagem para algo mais, mas parece a mais lógica, daí toda a necessidade pessoal do ser humano pela religião, não há um gene, mas há a morte. E a morte que destrói o ser, destrói a consciencia, a Alma humana fruto dos sentimentos do animal humano evoluido, destrói tudo não havendo imaginação para mais, o homem é obrigado a criar um deus, ou um Deus para explicar que tudo isto não é uma merda.
Anuncio a minha morte, sem espera frequente, vivo a vida sem crenças teológicas, e respiro cada molécula de oxigénio como se fosse a ultima, porque um dia anunciei a minha morte, e não tenciono ficar cá para semente.
Repudio o morte desnecessária, ainda que, por vezes pareça que todas sejam desnecessárias, mas a vida não deve ser eterna, caso contrario tudo seria um sentido infrutífero, a morte a alguns mete o medo pelos que se agarram á vida ou seja os que ainda têm muito para viver, a outros e a mais aceitavel, o medo de perder os entes queridos, há ainda quem tenha medo de morrer para não deixar os outros, tudo fruto do sentimento humano egoísta. As mortes desnecessárias são de pessoas que têm muito que viver, e a viveram inconscientes de que um dia anunciaram o fim, são essas as que mais me comovem, um velho homem que viveu toda a sua vida é consciente do fim e aceita-o pois apercebe-se que o fim chega, e começa a despedir-se de cada partícula da vida, de cada pessoa. Aos entes queridos, o normal é inevitavel quantos mais novos mais incrédulos se tornam pois a pessoa que vêm agora morrer sempre esteve ali logo é normal que continue ali, aos mais velhos apesar de doloroso sabem que os seus amigos têm vindo a expirar e eventualmente o aceitam.
Vivo e vivi, vivi sempre que pude ao máximo, apreciando cada curva de uma montanha, cada nuvem que a contorna, cada sombra de uma mulher, cada fumo de cigarro libertado em nuvens cinzentas, cada beijo como se fosse o ultimo, cada queda e cada dor que me relembra o estar vivo.
Anuncio a minha morte, pois a cada momento ela está mais próxima, e apreciava um bom funeral.
A morte e tão normal como o nascimento, e o acontecimento é mal aproveitado, digo eu mente fruto de toda a vida festiva do ser humano nos ultimos séculos, fruto da geração que insiste em de desenraízar das suas tradições e religiões, eu apreciava um bom funeral. As pessoas desaparecem quando mortas, ficam debaixo da terra a apodrecer como corpo, a sua "alma" e tudo o resto desaparece e deixa de existir, e a unica forma de persistir é pela memória dos que cá ficam. Pior que morrer, é desaparecer da face da terra, e da memoria da humanidade.
Talvez por isso os chineses tenham três coisas necessárias para viver uma vida plena e preenchida, plantar uma àrvore, escrever um livro, e ter um filho, desconheço a ordem, mas reconheço que adorava deixar um filho para trás fruto de tudo o que fui e poderia ser, reconheço que o livro carrega toda a nossa alma e sentimentos para a eternidade da sua existencia, e a àrvore, torna-se uma com o mundo, criando muitas outras em seu seguimento.
Espero a morte, indiferente por mim, mas consciente dos meus entes-queridos, porque vivi tudo pleno de mim mesmo e de todos os outros, e , um bom funeral, relembrando a minha existencia terrena com uns bons licores e cervejas de alto nivel, saudam à minha vida a memoria, do que vivi e apreciei, um funeral deve ser para relembrar o falecido tanto nos bons como maus momentos, onde tudo e todos se reunem conhecendo e partilhando deixando verdadeiramente a pessoa que ficou para trás,criando assim forma á imortalidade da pessoa na memoria da humanidade.
Já disse alguem, o homem persiste na memoria dos que ficam.
Não há nada a lamentar num funeral a não ser a cerveja morta, pelo menos no meu.

Mitghefüll

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