sábado, 9 de outubro de 2010

Mantas

Mas como será ser grande? Crescido?
Quando for grande quero ter uma dor de cabeça, pressionar as têmporas de cabeça baixa e olhos fechados para dizer, deixem-me em paz tenho uma enorme dor de cabeça, preciso de ficar sozinho.
Depois vou brincar, vou ter tempo para andar de bicicleta e não ter horas para chegar.
Quando for grande vou poder ir onde quiser sem ninguém perguntar por mim.
Não vai fazer mal chegar a casa com os olhos vermelhos da escuridão, ninguém vai ralhar pelas calças rotas, vou ser grande, crescido, dono de mim.

Quando for grande vou acordar ás horas que quiser, ter dias e dias só para mim! Fico se for preciso acordado pela noite dentro a ver os filmes mais aterradores enquanto como porcarias.

Quando for grande quero ser tudo aquilo que eu quiser!

Oh quando for grande.

Hoje quero ser pequeno, quero não pensar como entreter o tempo, quero não pensar em não pensar, quero não ter dores de cabeça, quero não ter que ralhar comigo pelas horas, quero não ter cuidado com as calças rotas ou sujas, não quero compromissos ou ter de ser responsável.
Hoje quero algo que já não sou.

Viaja-se tanto para alcançar o que nunca fomos,
um dia somos nada mais do que já fomos e nem nos lembrámos de o desfrutar,
triste vida esta que passa e não a contemplamos,
posso guardar um pouco de cada de mim?
Um dia vou querer algo que possa ter?
Algo que possa ver?
Desfrutar e realmente perceber?

Quero ser pequeno, não escrever,
brincar e ficar preocupado
porque minha mãe vai ralhar porque as calças estão rasgadas,
eu vou dizer que estivemos a brincar aos soldados nas obras aqui ao lado,
tomo um banho, vou jantar e adormeço quentinho enrolado em toneladas de mantas.
Quero adormecer como adormecia,
não pensar noites sem fim.
Quero não ter que escrever.
Quero não ver.

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