terça-feira, 22 de março de 2011

O anónimo da mansarda gritou

Folheio o jornal,
hoje não me irritam as noticias,
hoje são tão aborrecidas como ontem,
são tão burocráticas,
tão corruptas,
tão revoltantes...
A vontade é revoltante, e tão serena,
hoje irrita-me outra vontade,
a vontade de outros que são artistas.

Artistas de ser artista,
senhores de poiso,
contemporâneos revestidos de cores e outras tretas abismais,
descuram o sentimento verdadeiro dos que criam por
serem verdadeiros sofredores do viver.

Merdas que se saltitam,
merdas que se atropelam,
cada um mais sedento de poiso,
cada um mais revoltado com a escuridão certa,
ah, ninguém chora, ninguém os vê,
os olhos estão centrados noutra vida.
Os olhos já não são de quem tem,
mas para quem quer um ser diferente
não ficar só porque sim no alto pedestal.

Danem-se estes senhores cheios de si,
cheios de outros senhores que os ensinaram a sentir.

Danem-se todos que no meu ser a dor é minha.
E a mim seus bonecos, ninguém me ensina a sentir.

Vão, subam ao poiso, hipócritas de fado,
a lágrima pertence a quem deu,
a quem sofreu,
porque os todos os outros,
ignóbeis da vida, vocês dizem:
NINGUÉM SER.

Fodam-se então.
É minha a dor.
A dor de quem vive.

Não a quem a si diz ser alma de artista,
esses que se criam, que vêm e vão,
não lhes tem o pertencer,
não lhes dá a sede de existir
em busca de uma luz rebuscada à sombra.

A-R-T-I-S-T-A,
ARTISTA! É palavra tosca,
de quem diz muita coisa oca.
Já todos os outros, nas mansardas p'lo mundo espalhados,
são Homens, "Génios", desconhecidos no viver,
desconhecidos das elites.
São quem vive,
quem realmente vive e sofre, não inventam dor.
Senhores da vida, Reis da MANSARDA.

Criam poemas e com eles adormecem,
e todos ficam, cada um dos reais génios,
embalados nos seus poemas,
dançando nos seus quadros,
dormitam no sonho REAL,
esses artistas, esses génios,
esquecidos do mundo,
esquecidos de si.
Esquecendo a dor.

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