quarta-feira, 25 de julho de 2007

O sofá

Era a minha paz, naquele quarto.
Numa casa de paredes grossas, cheia de gente, aquela casa tinha-me somente a confusão.
Muita gente passou por la... enfim...acho que toda gente passou por aquele sofá uma vez qualquer que tenha lá ido.
Tenho recordações feliz e tristes daquele sofa. Entre 4 paredes aquela cela ganhava vida com o brilhante cadeirão.
Pouca luz, grades na janela...uma cama...e um sofá verde para uma pessoa. Tenho grandes momentos por ali contigo.
Aquela vez em que todos nos reunimos em volta do sofá a jogar poquer.
E quando tu apareceste te sentaste-te e falamos durante horas.
Beijamo-nos por ali pela primeira vez...sim...no sofá...
E depois ele apareceu. Ela apareceu. Toda gente apareceu, todos os que apareciam queriam o sofa.
Era o meu sofa. E nós falávamos durante horas por ali.
Aconchegados a ver um filme. A lutar para poder ver o filme a partir do sofa, eu e ele perdiamos sempre o principio lutando empurrando-nos para estarmos ali bem confortaveis, no fim só um lá ficava.
Não eram só filmes, quantas vezes não fiquei por ali a devorar livros? Não sei porquê, os livros por ali sabiam-me bem melhor.
Lembro-me de quando chegava depois de um dia cansativo e me sentava, olhava em redor e só tinha o silencio.
Nunca em lugar algum da terra tive um lugar assim, era mesmo bom estar ali num velho sofa de sala reaproveitado com um cobertor por cima.
Sofá verde com um cobertor verde.
Foi ali que passei bons momentos.
E no entanto não consigo encontrar lugar algum na terra onde-me sente, deite, ou fique de pé e sinta uma paz tão grande como era estar naquele sofá.
Horas e horas sentado desfrutando o silencio sozinho, por vezes adormecia, durmitava durante minutos. E acordava, completamente em paz, o meu recanto selado era aquele.
Perdia-me ali, deixava de existir a noção do tempo.
Não fui o unico, aconteceu com outros... que chegavam e adormeciam por ali.
Ou simplesmente se sentavam, deixava de existir a necessidade de uma conversa, não existia pressão, podia-se ficar ali horas embrenhado nos pensamentos sem dar por nada. Mas por vezes, a conversa fluía e as horas passavam e o prazer da conversa ficava até horas tardias...
Tenho saudades daquele sofa.
Ele ja era velho, agora...deve pesar uma tonelada com tanta recordação. E tem manchas dificeis de sair, são recordações daquelas que teimam por ficar dado a sua importancia na nossa vida.
Como disse, boas e más...
Vou continuar a procurar outro assim...Aquele pobre coitado está agora esquecido no sotão.
Vou ver dele...e talvez...fumar um cigarro ficar por ali durante horas, a desfrutar o silencio, desfrutar...
Tenho saudades...
Aposto que tem saudades minhas também...
Pode ser que ainda esteja no sotão.
Vou la só fumar um cigarrinho... Não demoro...
Três, quatro horinhas...

2 comentários:

João disse...

é claro que é religioso ter o nosso santuário do mundo, e é óptimo quando esse lugar é assim aconchegante, que possas mostrar aos outros e que este te possa proteger ao mesmo tempo..

tens um óptimo santuário.

Abraço

Ana Margarida Cinza disse...

esse sofá deve ter mil histórias para contar...

podes contá-las

podes guardá-las

podes transformá-las

são tuas, tal como o sofá!...É bom guardarmos algo dentro de nós que por vezes pode pertencer ao passado...é bom saborear um cigarro com sabor a saudade, a felicidade...num sofá verde!