quinta-feira, 3 de maio de 2007

Romeu prometido mas extinto



Aquele gosto na boca de uma manhã mal acordada.
Volto sempre ao mesmo todas as manhãs, chateia-me um pouco isto.
Reparo por entre pestanas a luz minima que vem em pequenos raios de sol por entre os meus estores descidos .
A musica desconcertante e "smooth" acorda-me trazendo-me à luz da consciência.
Por entre olhos mal abertos procuro um paralelípipedo de cartão pesado, depois o suave toque do metal frio. O click ouve-se, o calor é libertado, o calor entra pulmões adentro, o click ouve-se, saboreia-se o doce sabor do cilindro matinal.

Forço os abdominais, inspiro, e olho em frente.
Vejo a parede que reflecte a luz matinal melhor que o tecto.
Viro-me para a direita, dou com os meus pés nus no chão frio que desperta.

Acordei ao som da musica aleatória que me faz despertar, uma musica escolhida ao acaso de um numero electrónico por uma função qualquer matematica.

Passeio pelo chão saboreando a musica entre danças de fumo. Chão frio que entra pernas acima, subindo até atingir a parte de trás da minha nuca, volta ao chão desta vez pelas costas, como onda de choque que arrepia, mas acorda!

Entre passeios encontro-me olhando a mim mesmo por uma janela reflectora, por entre ela atrás de mim vejo aquela janela la fora, trás para baixo arrepios de pequenas gotas entre frio e vento, é só a chuva (bela musica de fundo a chuva).

Ólho-me a fundo olhos nos meus olhos...e vejo-me pensado em frio, chuva, sabor matinal, danças de fumo... Sabe bem saborear estes sabores.

Pensei em pensar, não pensei em ti, nem nela, nem nele, nem nos outros, nem nela, nem na outra, nem na outra que me fala todos os dias pensando em procurar em mim um Romeu prometido mas ja extinto.
"Talvez sejas a Julieta... Mas eu não sou o teu Romeu."
Palavras bem ditas pelo cantor entre acordes e notas desconcertantes e compostas ao grito da banda Que Não fuma.

Vejo-a na rua passeando com a outra sem a conhecer de lado algum, olhando-a bem dentro aos olhos vendo quem ela é, é bonita, inteligente, brilhante, e a outra? profunda a amiga...
Vejo o outro de mão dada com a outra passeando de pasta na mão, passam à frente de um velho sentado que olha para mim como eu olho os outros, são outros, não são alguem, nem vão ser,
são rostos e almas que passam e nada dizem, nem vão dizer.

Quem sou eu se não mais do que um pensamento esquecido de um velho Romeu?
Fui em tempos outro.
Agora olho por aí sentindo as coisas sem pensar no futuro.
Dá me prazer não sentir alguem.
Dá-me enxaquecas sentir alguem dentro da minha cabeça.
Entro por entre alguma para sair tao facilmente como entrei, sem de forma alguma sentir a vontade e desejo de prolongar o aborrecido sentimento de hipocrisia generalisada pela conversa pós sexo.
Estou farto de ter alguem, sou eu sozinho por entre mim e minhas danças de fumo.
Era um Romeu prometido, agora sou uma dança de cigarro que se prolonga entre movimentos de inspirações e expirações.
Sou uma coisa sozinha que pensa sozinha e sente vonta de estar sozinha.
Olho-me a mim nos olhos e vejo-me como alguem que passa.
Não digo nada... nem vou dizer...não tentes aproximar-te... daqui não levas nada! Pela tua segurança mental... não sou um Romeu minha provavel Julieta

Quero a ausencia de enxaquecas pessoais, fora de prazeres de amor vivo, quero a minha solidão por entre danças.
Saboreio a musica, o alcool, a ressaca, o sorriso de uma bela que passa e vem (pelo sorriso retribuído), ao encontro do calor da minha cama, e sai pelo chão frio que acorda.
Acorda minha provavel Julieta, vai procurar um Romeu que não sinta.
Encontra alguem que queira ter-te, alguem que não procure por ruas os olhos de vidas que passam.
Procura alguem que te queira.
Eu não penso em ti, nem na bela que passa, nem no casal apaixonado, nem na outra, nem em nós, nem no outro nós, nem naqueles nós que eu fui com todas as outras.
Fui mas não sou.
Era um Romeu prometido.
Agora sou um dançarino de danças de fumo e chão frio, saboreando o sabor da chuva que cai.

by: Mitgefühl

3 comentários:

João disse...

Parabéns, um óptimo texto, mas como diz o Grande, "São Só Coisas", talvez as danças de Fumo se possam transformar em sinais de fumo e o chão deixe de ser tão frio, abraços e parabéns.

Eleanor Rigby disse...

Não acredito em Julietas, muito menos em Romeus - desculpa-me o sexismo barato.

Acredito porém que tens imenso jeito pra escrever.

keep up the great work*

Ana Margarida Cinza disse...

ai ai...é bom ver a evolução e descobrir quem és, Mitgefühl

Gostei..

Afinal de contas, todos nós somos pouco mais do que promessas daquilo que queríamos ser e não mais que um fumo pouco nitido daquilo que nunca pensámos vir a ser...

amor, sexo, dança, fumo...inspirei e expirei, sorri...parabéns!

Gui* Queen of the... xD LOL